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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Flor amorosa (Carlos Nóbrega)




O que teria sido feito desta pobre música
se Catulo da paixão não a tivesse feito?
Vagaria, solteira, o tempo todo
pelas calçadas das pautas?
Não teria, nunca, nada de seu?
Pediria pelo amor de deus
esmolinha às flautas?
Levaria a vida inteira como eu?
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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Marília Arnaud em tarde de sombras e delírios (Nilto Maciel)




Acordei hoje com vontade de ler o novo livro de Simone Pessoa: Bolsa de mulher. Fui à prateleira das publicações não lidas (são poucas, no momento) e o agarrei, com luxúria. Caminhei até a sala de leitura, caí na poltrona e pu-lo (o impresso de Simone) no colo. Mal me preparava para o delírio matinal (inicio, toda leitura, de olhos fechados, em busca de concentração e da consequente absorção da verdade transcendental, a plenitude do esvaziamento mental, etc.), mal eu me afundava no túnel escuro e sem fim do silêncio, o telefone zuniu, feito mil cigarras às vésperas da morte. Aturdido, voei até o aparelho. É da casa do escritor Nilto Maciel? Tive receio de estar a ouvir uma voz provinda da mais abissal esfera. De onde fala? Sosseguei logo: Estou no Benfica. Seria Simone? Sim. Não a cronista, a escritora, mas a estudante Simone Farias. Tínhamos nos comunicado pela Internet, ela no desejo de me conhecer, eu na intenção de me exibir. Já li o livro, mas estou com umas dúvidas. O senhor pode me dar umas explicações? Sim, se estiver ao meu alcance. Posso ir à sua casa? Só se for hoje. Quero saber se... Como se deu o big bang ou por que o bang bang chegou ao fim? Riu e eu tive certeza de ainda passar um bom dia na vida, mesmo que seja o último.