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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Nada (João Soares Neto)


 

Eu não sou um guarda-chuvas. Sou uma guarda-nada. O nada é o que prefiro guardar, escrever, ler e sentir. Se fosse um guarda-chuvas protegeria alguém, mas como sou um guarda-nada a quem posso proteger?
No meu nada estou incluído, dele vim e a ele voltarei. Leia as belas frases de Clarice, mas eu sou eu e o nada está por perto. Sempre mais perto do que o tudo. E chove. Estou sem guarda-chuvas e não sinto nada. O nada é também uma expressão de sentimento. E a água que me afaga também pode me afogar. A diferença é um nada. Veja como um nada faz a diferença.
Não, esta conversa não é sem sentido. Ela tem começo com a Clarice e belos arranjos com guarda-chuvas e os meus arranjos são com nada.
Assim, deixo o nada com você para que coisa nenhuma aconteça.
Não bebi nada. Não pense que isso é fruto de nada. Não é. E é.
A decisão é sua ou do nada que sempre nos acolhe ou encolhe, virando quase nada, um nadinha.
Se você não entendeu o que escrevi. Nada contra.

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Caso o tempo decida (Clauder Arcanjo)





Para Lustosa da Costa
(In memoriam)

Caso o tempo decida
Enterrar os ponteiros esquivos,
Ou pintar de branco os segundos,
Pensarei em deixar o hiato de mim,
A solfejar, quem sabe, a sonata final.

Caso o tempo decida
Abandonar os segredos insepultos,
Ou lambuzar de cinza as horas,
Deixarei, à sorrelfa, o espectro de mim,
A tartamudear, você sabe, a praga outonal.

clauderarcanjo@gmail.com
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