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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O tempo existe (Francisco Miguel de Moura*)





Existe um tempo que sequer sentimos,
existe um tempo que sequer pensou-se,
existe um tempo que o tempo não trouxe,
existe um tempo que sequer medimos.

Existe mais: um tempo em que sorrimos,
diferente do tempo em que chorou-se,
e um tempo neutro: nem amaro ou doce.
Tempos alheios, nem sequer são primos!

Existe um tempo pior do que ruim
e um tempo amado e um tempo de canção,
existe um tempo de pensar que é o fim.

Tempo é o que bate em nosso coração:
um tempo acumulado em tempo-sim,
e um tempo esvaziado em tempo-não.

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*Poeta brasileiro, nasceu em 16.6.933, em Picos, PI, mora em Teresina. Formado em Letras, com pós-graduação em Crítica de Arte, em Salvador.

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A dupla face (João Carlos Taveira)











(Stéphane Mallarmé por Edouard Manet)


Dentro do verso,
meu universo:
tudo é possível
e tudo é nada.

Dentro de mim,
dor e cetim:
minha loucura,
meu alicerce.

Sou e não sou,
ao mesmo tempo,
voz e luxúria.

Não basta ao vento
a sua fúria?
Basto-me louco.


(Do livro A Flauta em Construção, 1993)

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