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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sem folia ( Wilson Gorj)




Comprou uma pistola. Mas essa não era como as outras: uma arma incomum, posto que disparava tristezas. Armado, ele entrou no salão onde muitas pessoas pulavam o carnaval. Disparou para todos os lados. Pessoas chorando, cabisbaixas, olhares morteiros, braços largados ao lado do corpo. Em pouco tempo o local se esvaziou; calados os auto-falantes. Pelo chão, copos descartáveis, confetes, serpentinas, colares havaianos, máscaras, triste cadáver de uma alegria morta. O atirador, então, sentou-se no meio do salão. Sacou a outra arma (uma bem comum). Houve um estouro e novamente o silêncio. Outro cadáver. 

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A intimidade da palavra de Cyl Gallindo* (João Carlos Taveira)



 

 (Cyl Gallindo: 1935-2013)

          Quando André Gide recusou os originais de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, no início do século XX, não imaginava a besteira que estava fazendo, principalmente para a editora Gallimard e para a sua reputação de intelectual sério e respeitado. Algum tempo depois, Proust conseguiu editor para uma das obras máximas da literatura mundial. A verdade é que, além de ficar chupando o dedo, o senhor Gide também teve de engolir sapos inimagináveis. E, o que foi pior, de conviver com o atestado de miopia que o acompanhou pelo resto da vida.