As
pessoas de poucos rabiscos (ou nenhum) costumam agredir as mais fecundas e
dedicadas ao exercício de alinhar palavras (chamam-nas corretamente de prolíficas,
mas querem mesmo é achincalhá-las) com frases assim: “O que vale é a qualidade;
quem redige muito, o faz porque ainda não encontrou o próprio caminho”. Não
vejo assim. A maioria dos bons escritores criou para lá de uma dezena de obras.
E mais teria feito, se mais longa vida tivesse tido. Citemos apenas uma dúzia
(só brasileiros do final do século XIX até o XX): José de Alencar, Machado de
Assis, Aluísio de Azevedo, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Graciliano
Ramos, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice
Lispector, João Cabral de Melo Neto, Lygia Fagundes Telles. Poderia mencionar dezenas
de dúzias, mas diriam os incansáveis intrigueiros: “Ah, esses não são
titulares, são do time reserva”. Enquanto isso, contam-se nos dedos os
escritores de obra escassa (um ou dois livros pequenos): Augusto dos Anjos é o
mais famoso deles. Bem conhecido também é
Raul de Leoni. Se se quiser ampliar o número, é preciso dizer que quase todos
morreram jovens, razão pela qual (talvez) conceberam pouco. Cruz e Sousa seria
um deles.