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sábado, 16 de março de 2013

O homem desoriental – VIII a X (Mariel Reis)










VIII
O coração não se queixa.
Não há sofrimento,
Nem infelicidade
Quando suas mãos hábeis
Mexem nos meus cabelos.

IX
O meu espírito perturba-se na sua ausência.
Debate-se nas sombras das feras
Tomba no ostracismo do espaço
Dissolvido pela música eterna.

X
Os reis não possuem tesouro comparável.
Os arquitetos reais nunca construíram
Arcos a que pudessem equipará-la.
Não há ornamento de prata ou ouro
Nem riqueza sobre a terra
Que se compare ao doce hálito de sua fala.

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sexta-feira, 15 de março de 2013

Memórias de Nilto Maciel (Salomão Sousa)





Quase mensalmente tenho recebido um livro novo de Nilto Maciel. Pensando bem: escrevi pouco (quase nada) sobre esta obra que já goza de espaço no registro da literatura brasileira, mas ainda sem leitores. Ela tem sido lida quase que só pelos confrades. O que é uma pena, pois se trata de produção que goza de desenvoltura e de consciência inigualáveis. E ainda não será desta vez que irei fazer um artigo ou resenha sobre a obra de Nilto Maciel. Será apenas um registro circunstancial, de lembrança e memória de um amigo. Um destes livros que ele me mandou é "Menos vivi do que fiei palavras". É de uma sinceridade rara, que raia o perigo. Basta ver uma frase no primeiro capítulo sobre o livro Os morcegos, do meu amigo José Godoy Garcia. "Nenhuma literatura sobrevive (...) se o escritor se deixa enlear nas malhas das circunstâncias". Nesta época, já alertávamos ao Godoy para o perigo de deixar explícita a crítica poética a figuras políticas do período (Kissinger, Delfim). Mas muitos registros foram mantidos no livro. O importante, no entanto, é que Godoy sobrevive. Muitos autores mencionados por Nilto Maciel, todos de seu convívio, acabaram num permanente limbo. Li e abono todos os seus registros.

É esta espontaneidade sábia que está faltando à crítica e ao jornalismo. Esta espontaneidade que alimenta e instiga a produção literária.


Só fiquei pesaroso porque ele terá descartado de seus diários as referências à nossa convivência e, talvez, à minha poesia. Talvez estas referências não existam. No período retratado (1986/1992), eu não publiquei  nenhum livro, apenas o livro Falo, que pode não ter coincidido com o início de seus diários. E há que ressalvar que ele não se atém ao cotidiano. Garimpou em seus diários apenas as referências às leituras e à literatura produzida em seu tempo. E, neste período, era habitual eu visitá-lo, oportunidade em que conversávamos enquanto meus filhos brincavam com suas filhas pequenas Iracemas traquinas em Taguatinga Norte.


Tenho muitas saudades do Nilto Maciel, do nosso convívio, pois a sua sagacidade alimenta os amigos. Conheço muitos diários. De Lúcio Cardoso, Gide, as memórias de Chateaubriand. Nilto: assim retrabalhadas, as suas só enriquecem um período da literatura brasileira. Um período que julgo estranho, pois tínhamos saído do boom da literatura latinoamericana, sobretudo no conto e no romance, e a poesia não sabia se se enveredava pelo marginal ou pelo concretismo. E aí entra o seu pente fino arrancando com duras garras um estudo que nasce clássico. Baturité, o abraço do amigo. Você sabe, né?


(http://safraquebrada.blogspot.com.br/, 24/2/2013)


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