(Lucius Annaeus Seneca)
Encontra-se
nos anais dos fóruns e dos parlamentos (desde a Roma Antiga, ou antes) esta
lição: qualquer autoridade, tribuno ou pessoa do povo é capaz de incriminar
(acusar de crime, delito, conduta amoral, etc.) outro cidadão, mesmo o mais fiel
cumpridor das leis ou o mais probo indivíduo. Haverá sempre um deslize ou
pequeno erro cometido, um defeito moral a se averiguar. Não se trata do mil
vezes repetido “errare humanum est” (de
frase atribuída a Sêneca). Ninguém pode se dizer livre de ter violado a lei
penal, pois quase todo ato humano pode ser tipificado como crime. Vejamos o
estupro. Basta a mulher (esposa, amante, namorada) denunciar o companheiro pela
prática, não consentida, de coito, com ela, ou mesmo de ato libidinoso diverso da
conjunção carnal. E, se não se quiser falar em infração, fale-se em pecado. Se
não, em simples desvio de conduta, ato imoral, omissão, etc. Quem não furtou um
naco de farinha na feira? Quem não cometeu calúnia, difamação, injúria? Fulano
é um pervertido; sicrana é uma devassa. E hoje, quando tudo é proibido, quem
não praticou racismo? (“Esse negro não difere em nada de um macaco”). Quem consegue
se livrar da homofobia? (“Esse sujeito merece uma surra”). E o que dizer da tão
combatida pedofilia? Quem não murmurou, a morder a língua: “Meu Deus, por que
me deste olhos e desejo?” Detesto hipocrisia.