“Meu lema é: a linguagem e a
vida são uma coisa só.”
(João Guimarães Rosa)
UMA BIOGRAFIA NECESSÁRIA
Em que pese a magnitude de sua
importância nas letras nacionais, João Guimarães Rosa (1908/1967) estava
pedindo um biógrafo. Ainda que tenha merecido até agora uma das maiores
fortunas críticas de nossas letras, não havia encontrado quem se abalançasse a
reconstituir passo a passo sua ativa existência e analisado em conjunto sua
produção. Para isso deve ter contribuído a grandeza da empreitada, uma vez que
rastrear os passos do mineiro que se tornou cidadão do mundo e autor de
vastíssima e complexa produção ficcional não é tarefa para qualquer e tampouco
daquelas que possam ser levadas a cabo com brevidade. Pelo contrário, exige
competência, dedicação e beneditina paciência para vasculhar papéis,
documentos, periódicos e livros, entrevistar numerosas pessoas, buscar
informações esparsas, viajar, perquirir, cheirar, apalpar e, sobretudo, pensar.
Além disso, é preciso dar vida ao biografado, sentir com ele, pulsar nas suas
lutas, comemorar nas vitórias e amargar nas derrotas. Imprimir movimento à
narrativa, evitando que se transforme em longo e tedioso relatório, como tem
acontecido com tantas. Acima de tudo, terá que conhecer a fundo a obra do
biografado, esmiuçando-a com paixão, lendo, relendo, treslendo sem cansaço
tantas vezes quantas sejam necessárias.