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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Eu sou som, sou sons (Nilto Maciel)



 
Narrou-me Cleto Milani, por telefone, uma historinha nada linear. Contém alguns flashbacks. (Pelo visto, o homem deseja me imitar ou substituir). Anunciou ter conhecido “garota inteligente”, a passear (vagar) pelas ruas da Internet. De início, desconfiou de brincadeira de homem. Isto é, a pessoa com quem conversava não seria Cecília Sousa e, sim, algum membro da sociedade secreta dos cultores de letras. Pensou em alguns nomes: Carlos, Dimas, Felipe, Pedro, Raymundo. Terminou em Nilto. Sim, a “moça” das mensagens bem redigidas seria eu, a inquiri-lo. Se compreendia mesmo literatura, se “sabia das coisas”, se lia e escrevia, se isso, se aquilo. Cogitou ser grosseiro e “me” mandar p’ra baixa da égua. Antes de cometer semelhante loucura, jogou-se à cama e, enquanto dormia, ouviu sussurros vindos do nada: “eu sou som, sou sons, sou sa se si so su, sousa, sesi, só sua”. No dia seguinte, se deparou com isto, na tela: “Sonhei com o senhor. Nunca participei de oficina literária. Se não custa nada – como pude ler – quero ser sua aluna. Beijos. Ceci”.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Grifo meu (Carlos Nóbrega)



 
Que gramáticos diriam estarem erradas
as primeiras palavras do latim
essas que antecederam ao Império,
imprecisas, teimosas,
e que depois conviveram
com a Peste, com o feudo e com as Trevas,
que cruzaram os mares na boca dos primeiros padres
e que chegaram ao meu computador
E ao chegarem ao meu computador
eu as entortei,
só para o editor eletrônico sublinhá-las
pensando que é sabido e que pode corrigi-las,
O que na verdade ele faz é destacá-las,
dignificá-las, grifá-las, tracejá-las pela honra e glória
                        do nascimento delas;
Que se pronunciem às largas
conluir, desquecer, sêmen-ótica, estyranho,
ímpero, lixúria, etcentena,
Não haja – de carne ou de byte,
senhoralgum das minhas palavras.

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