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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Joia rara (Caio Porfírio Carneiro)





                                       
  Dê-me a vareta e pode ir embora. Não precisa ficar me atrapalhando. Vou percorrer essa beira do riacho, todo o trecho em que estivemos aqui. Você é tonta mesmo. Lhe dei um presente raro, tradição da minha família, e você nem deu bola. Meteu no bolso do vestido e nem um beijo ganhei de presente. Perdeu e, ainda por cima, pôs a culpa em mim. Eu o quê? Rasguei o seu vestido? Queria mais do que um beijo? Vá embora, para eu poder procurar em paz. Não fique me aporrinhando. Se eu achar aviso. Vá com Deus. Desapareça. Tchau.

Ela se foi irritada, falando pelos cotovelos, e eu fiquei procurando a joia rara, nervoso e buscando manter a calma. Risquei o chão com a vareta, ao longo do pequeno riacho que corria entre as pedras. Fui e voltei inúmeras vezes, pisando com cuidado. Cansado, sentei-me numa das pedras do riacho, respirando fundo. E não me conformava: "Meu Deus! Por que fui dar objeto de família tão raro para ela? Pensei que, com esse presente, ela... pois... é... cedesse. Vamos lá."

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O homem desoriental – XV (Mariel Reis)




 



(Quadro de Badida Campos)
 
Metade de nós está no presente
A outra permanece invisível no tempo;
Parte de nossa carne, poeira e vento
E a outra passa incólume à tempestade.

Metade atravessa o vale do esquecimento
Enquanto a outra arde em saudade,
Da parte que cai no desaparecimento -
Uma nuvem de areia sobre a cidade.

Uma parte de nós é constância
Enquanto a outra, substância volátil;
Que fundida ao infinito do espaço
Alerta-nos de nosso breve trânsito.

Ó Allah, ensina-me o segredo do silêncio
Permita-me aceitar a minha morte,
Qual o truque de um mágico
Que me guardasse junto das coisas eternas.

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