Shoppings: templos de consumo e de desejo (E muitas perguntas)
Em memória do
poeta Juan Gelman*
Os shoppings
são a antiga Ágora grega – o coração da cidade.
Globalização?
Da indiferença?
Cabeças
decapitadas, império do tráfico.
Um menino me
indaga; “O mal está vencendo?”
Olho
fixamente nos seus olhos: “Está”.
Consolo-o:
“Mas não será para sempre.”
Sociedade do
espetáculo, e o templo é de consumo – não para orar.
O que
significa isso tudo?
“Rolezinhos”
– transgressão?
Desejo do
tênis de marca?
Ou de
proclamar: “também existimos”. Grito contra a exclusão, voz dos que não têm voz
– a periferia berrando? Não sei. Sei que a baixar o cacete não resolverá. A
medida de valor ainda é o dinheiro, a cor da pele.
Sem as posses
dos meninos ricos – os vícios são iguais?
Desigualdade?
Sim. Viramos apenas consumidores. Não cidadãos.
(Não almejo o
panfleto.)
E só tenho
perguntas.
Fim de tudo?
De sonhos, ilusões, projetos? Ou não é nada disso.
Um universo
dessacralizado – sem fé.
Crack, crime,
medo – HORROR –, e lagostas para a governadora.
“O presente.
O presente é tudo o que tens como tua possessão. Como Jacó fez com o anjo:
retém-no até que ele te abençoe”.
(John
Greenleaf Whittier.)
Que tempos!
Queria escrever
no epitáfio: sem glória, mas com ternura.)
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*Morreu
no México, em 14 de janeiro de 2014, o poeta e jornalista argentino Juan
Gelman. Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Gelman teve o seu
filho (Marcelo) assassinado. Sua nora, Maria Cláudia, foi sequestrada enquanto
estava grávida e levada ao Uruguai pela “Operação Condor”. Nesse país, deu à
luz e desapareceu. A filha do casal (Macarena) foi entregue a um policial
uruguaio e só teve a identidade revelada em 2000. Grande parte da vida deste
grande poeta e humanista foi dedicada (com comovente paixão e intensidade) a
esclarecer o que havia ocorrido (com sua família e com o seu país), naqueles
tempos tão sinistros e sombrios.
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