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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Os melhores poetas portugueses contemporâneos (Adelto Gonçalves*)



(Rosa Alice Branco)
I

Lançada em 2004, com o apoio do Instituto Camões, do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e do Ministério da Cultura, Poesia Portuguesa Contemporânea reúne produções de 26 poetas portugueses que se destacaram ao longo do século XX. Organizado pelo professor Vadim Kopyl, diretor do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, o livro traz esclarecedor prefácio de Fernando Pinto do Amaral (1960), além de alguns poemas de sua própria autoria. Os poemas foram vertidos para o russo por tradutores do Centro Lusófono Camões com participação de Helena Golubeva (como tradutora-tutora).
             

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Shoppings: templos de consumo e de desejo (Emanuel Medeiros Vieira)



Shoppings: templos de consumo e de desejo (E muitas perguntas)

Em memória do poeta Juan Gelman*


Os shoppings são a antiga Ágora grega – o coração da cidade.
Globalização? Da indiferença?
Cabeças decapitadas, império do tráfico.
Um menino me indaga; “O mal está vencendo?”
Olho fixamente nos seus olhos: “Está”.
Consolo-o: “Mas não será para sempre.”
Sociedade do espetáculo, e o templo é de consumo – não para orar.
O que significa isso tudo?
“Rolezinhos” – transgressão?
Desejo do tênis de marca?
Ou de proclamar: “também existimos”. Grito contra a exclusão, voz dos que não têm voz – a periferia berrando? Não sei. Sei que a baixar o cacete não resolverá. A medida de valor ainda é o dinheiro, a cor da pele.
Sem as posses dos meninos ricos – os vícios são iguais?
Desigualdade? Sim. Viramos apenas consumidores. Não cidadãos.
(Não almejo o panfleto.)
E só tenho perguntas.
Fim de tudo? De sonhos, ilusões, projetos? Ou não é nada disso.
Um universo dessacralizado – sem fé.
Crack, crime, medo – HORROR –, e lagostas para a governadora.
“O presente. O presente é tudo o que tens como tua possessão. Como Jacó fez com o anjo: retém-no até que ele te abençoe”.
(John Greenleaf Whittier.)
Que tempos!
Queria escrever no epitáfio: sem glória, mas com ternura.)

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*Morreu no México, em 14 de janeiro de 2014, o poeta e jornalista argentino Juan Gelman. Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Gelman teve o seu filho (Marcelo) assassinado. Sua nora, Maria Cláudia, foi sequestrada enquanto estava grávida e levada ao Uruguai pela “Operação Condor”. Nesse país, deu à luz e desapareceu. A filha do casal (Macarena) foi entregue a um policial uruguaio e só teve a identidade revelada em 2000. Grande parte da vida deste grande poeta e humanista foi dedicada (com comovente paixão e intensidade) a esclarecer o que havia ocorrido (com sua família e com o seu país), naqueles tempos tão sinistros e sombrios. 

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