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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

(Santos olhos) Clauder Arcanjo




Quase noite. Ela desceu do ônibus, deixando, atrás de si, um rastro de rútila incredulidade. Tudo por culpa daqueles olhos. Santos olhos.
A lotação logo saiu, e todos os passageiros seguiram com um quê de profundo abandono. Melhor diria: pior do que abandono. Com um jeito de quem, num piscar de vista, se viram órfãos, privados da luz guia, da estrela que lhes davam, ao fim de um dia tão comum, num cair de tarde tão burlescamente cinzenta, um ar de imperial e singela majestade. Pois haviam, suditamente, ao longo de várias ruas e avenidas da grande cidade, estado ao lado deles, daqueles olhos santos olhos. De tão belos, quase anormais.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O homem desoriental – XVII (Mariel Reis)



 










Não se exaspere com a morte.
É apenas uma palavra
Cava dentro do peito
Repleta de sons agudos.
Não, não se intimide
Com o susto
Embora parte do meu rosto
Permaneça indecifrável
E repouse, nessa sala,
Sob o escuro.

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