Quase noite. Ela desceu do ônibus, deixando, atrás de si, um rastro de
rútila incredulidade. Tudo por culpa daqueles olhos. Santos olhos.
A lotação logo saiu, e todos os passageiros seguiram com um quê de
profundo abandono. Melhor diria: pior do que abandono. Com um jeito de quem,
num piscar de vista, se viram órfãos, privados da luz guia, da estrela que lhes
davam, ao fim de um dia tão comum, num cair de tarde tão burlescamente
cinzenta, um ar de imperial e singela majestade. Pois haviam, suditamente, ao
longo de várias ruas e avenidas da grande cidade, estado ao lado deles,
daqueles olhos — santos olhos. De tão belos, quase anormais.