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terça-feira, 4 de março de 2014

Meu papel é um altar (Francisco Miguel de Moura*)





 











“Minha música está nas letras,
Notas que se perdem na palavra”.** f.m.m.

 
Os sons dos meus rabiscos soam
Sonorosos onde as letras se perdem.
Meu papel em branco é leite e mel
Para o pensamento preso em nós...

Duros são os instantes do homem!

Solto meus cães e pássaros na manhã
Sem neblina, ao sol que me amanhece.
E eles viverão.

Minha ciência é a crua natureza.
Deus é tão rico! Faz bonito e belo
Tudo o que faz. E inda há quem diga:
Ai! que feia criação!

O diferente é belo e cabe no poema
Como na tela de um pintor barroco.
E este é, sim, igual a nossos pássaros,
Que levam nos seus braços nossa fé,
Voando para o além dos infinitos.

Terra é terra e Deus – vida e energia.
E no altar do papel – palco e juiz,
Vida e amor são luzes, são poesia.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro. Este poema tem por fim lembrar que nem tudo o que parece é. Nem a tela do computador será eterna.
**A epígrafe acima também é minha – pequenino poema que a este se agrega.

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segunda-feira, 3 de março de 2014

Cena matinal (Hilda Mendonça)





 









Todo dia, bem cedinho
Quando a cidade acorda,
Lá vão os dois velhinhos...
Pisando de mansinho,
Com seus passos miudinhos...
O velho e a velhinha dele.
Segura o bracinho dela
Como cavalheiro à moda antiga,
Seguem juntos o caminho
Com passinhos miudinhos,
Pisando de mansinho o velho e a velhinha dele
Conversam; como conversam!
O velho e a velhinha dele
Retomam seus assuntinhos
De antevéspera,
De trás anteontem,
Como se novo assunto fosse!
O velhinho e a velhinha
Seguem juntos o caminho...
Estico o meu ouvido curioso,
Querendo ouvir do que falam
A velhinha e o velhinho;
Só consigo ouvir pouquinho
Do eterno assuntinho...

Destino de todos nós.

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