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quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

A arca (Nilto Maciel)




De longe, avistei a aglomeração, e a curiosidade me arrastou para ela. Talvez algum mágico estivesse a encantar a pequena multidão. Podia tratar-se de comício, também. Avancei mais curioso, atento aos aplausos e modos daquela gente. Não, ninguém engabelava ninguém, e todos vestiam trapos sujos. Um cheiro de lixo mandou-me dar meia volta e volver. Porém, meus olhos queriam inventar o mágico ou o político, e me grudaram às costas do último molambudo.

Luís Martins da Silva: a fertilidade da poesia (Nilto Maciel)


Alguém afirmou ser impossível fazer poesia em Brasília. Para outro, os poetas candangos imitam os modernistas de 1922, como se o Brasil tivesse sido criado no século XX. Luís Martins da Silva publicou quatro livros e uma latinha de poemas. Entretanto, se escapou às garras daqueles críticos, caiu nas malhas de outro: em vez de imitar o pessoal de 22, seguiu a trilha de Nicholas Behr, famoso por ter sido processado na Justiça comum, sob a acusação de editar e divulgar livretes mimeografados, considerados atentatórios à moral e aos bons costumes dos censores do pós-l964.