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sexta-feira, 29 de setembro de 2006

A Babel de Nilto Maciel (Maria José de Souza)



O livro de contos de Nilto Maciel recebeu acertadamente o nome Babel: uma miscelânea de linguagens, personagens e focos narrativos, numa seqüência de 31 contos, a maioria de um realismo fantástico notório.

Editado pela Editora Códice em 1997, Babel oferece 120 páginas de leitura vertiginosa. A cadência dos contos, assim como a diversidade de temas, levam o leitor num redemoinho de idéias e imagens.

Há contos como, por exemplo, "Avisserger Megatnoc", subdividido em intertítulos numerados em ordem decrescente que dão um ritmo próprio à leitura. O leitor vai lendo como se estivesse sem fôlego, caminhando para o inexorável fim. Lido ao contrário, o titulo "Contagem regressiva” dá a idéia exata de como o autor é experimentado, podendo fazer brincadeiras com as palavras sem cair nas associações óbvias. A ausência de muitas vírgulas, como no item 6 do conto: "Já pulavam dançavam gritavam cantavam e a banda estridava...", e o uso de palavras com repetição de fonemas e sons, como no item 5: "Corra só corra José socorra José direto sem curvas para o baile de máscaras corra corra...", faz pensar em pulsação, urgência.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Os monstrinhos de doze anos (Nilto Maciel)

(Caos, desenho de Daiane Oliveira)


O lixo inundava as ruas. Um e outro transeunte ia e vinha, passo lento, olhos enfiados nas vitrines. Nos estádios, porém, não cabia sequer mais um espectador. Repletos também os bares. Falava-se de tudo, menos da fumaça que empestou o ar na parte da manhã. Mais cedo ainda, uma pequena explosão, lamentada pelas autoridades, matou alguns operários desclassificados que transitavam pelas proximidades da fábrica. Durante todo o dia a polícia esteve de prontidão nas ruas. À noite, ao ranger das camas e ao gemer dos casais, a catástrofe do começo do dia virou pura invenção de bolchevistas.