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quinta-feira, 29 de março de 2007

Notas poéticas – Sobre a sensibilidade casimiriana (Henrique Marques Samyn)


(Casimiro de Abreu)

A despeito de todas as tentativas em prol da recuperação do valor poético de Casimiro de Abreu, o vate fluminense continua sendo considerado, na maior parte das vezes, um inofensivo poeta menor e popularesco. A verdade, no entanto, é que o grande valor de Casimiro está justamente no que nele é mais reprovado, ou seja: em sua dicção, tão ingênua e falsamente simples – uma falsa simplicidade que também caracterizaria a dicção de um dos maiores poetas brasileiros, Manuel Bandeira, admirador de Casimiro e nascido cerca de cinco décadas depois deste.

Dentro do sempre navegado mar (Laene Teixeira Mucci)



Este é o espaço poético de Nilto Maciel. Local e tempo. Dele nos inteiramos, nele penetramos, nos banhamos em seu amanho de rio – e nos identificamos ou não, com a matéria (corpo/alma) de seu belo sensível. O campo poético não se encontra fechado – possui muitos braços prendedores, pernas distendidas para o longo alcance e um grande peito que se entrega e recebe proximidades e lonjuras, todas elas atuando sedutoramente. Está presente em uma ação polarizadora, que imaniza, completa e parte, e estremece, a unidade mistéria – pélago, ninho, volume e superfície, profundez e comprimento, condensação de nuvens... Para caminhar sobre um espaço poético, é mister usar calçados leves ou pés levitados e descalços, ou nem uma coisa nem outra, senão o movimento rítmico de um perpasso de alma. Nilto Maciel nos perpassa de alma pela visão interna e externa, mágica e transformadora, de um Poeta que permite solver e dissolver em suas retortas de vidro frágil, seivas de girassol e trevo proibido, fundir em seu alguidar de barro sibilante, o líquido suspiro da hematita e da libélula. O Poeta tem “os olhos cegos de não-ver; os olhos mudos vislumbradores da loucura de uma babel tempestuosa em oceano largo; os olhos surdos, que não escutam – vêem cantos doloridos e assustados de morte e solidão...” e como se não bastasse, a “própria imensidão de ser...” Suas palavras tentam traduzir enigmas congênitos em suas redomas e labirintos inarredáveis e conspiradores. O Poeta compõe seus versos de milagre profundo, mergulhados numa humanidade atormentada, por vezes contraditória em figurações características. Não se digladiam – colocam-se esses pontos de procura, quiçá de encontro, em porções e camadas que se amontoam e se revezam, pesadas e leves. São olhos que se lançam e só se apaziguam doloridos na última visão – a da terceira estrofe – dentro da vasta praia erma – região/país/continente – longínqua/próxima, de ser; de ser, de ser...