A cidade nua, sem vestes e sem verde.
São Paulo dorme acompanhada da solidão.
Nada de peixes nos leitos dos rios,
nem flores e frutos nas árvores de cimento.
O amor se fragiliza e se recompõe
entre vigas de concreto e o calor humano.
Uma cidade dividida entre
a riqueza e a pobreza.
Caviar e champanha nas mesas da zona sul
e os farelos nos pratos da periferia.
Colméias nos prédios, casas,
casebres e embaixo das pontes.
A vida em contraste se anula
diante do silêncio dos homens.
Nos jardins as mansões escondem a hipocrisia.
No centro a fome planta sementes nas calçadas.
Na Praça da Sé a Catedral pede clemência
aos homens de boa vontade
e ninguém lhe dá ouvidos.
Um garoto de olhar triste implora
para comprarem lixas de unha.
Sabe, se não vender nada, enfrentará
os olhos mudos da sua mãe ao chegar em casa.
Nas escadarias do metrô um homem
a vender dois isqueiros, oito pilhas,
duas colas ao preço de um real.
Um gato faminto come e devora
a pomba que morreu atropelada.
Na outra esquina um menino pede
um prato de comida e nada consegue.
No calçadão um senhor grita pega ladrão
e ninguém para ajudá-lo.
O policial vem socorrê-lo e não alcança
o assaltante que se perde
entre o mar de camelôs e a população.
Observo a cidade em terceira dimensão
e vejo que São Paulo ainda é
o melhor lugar para se viver.
Na frieza dos concretos as flores humanas
plantam sementes de amor
em nome da Vida.
/////