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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

João Soares Neto me livrou da morte súbita (Nilto Maciel)



(João Soares Neto)


Andava pelos corredores (?) do Shopping Benfica, após o almoço, em busca do subsolo, onde se guardam os carros. Mais uma tarde de leituras pela frente. Assim tem sido minha rotina. E imaginava se me veria de novo com o velho Machado – não consigo viver sem ele – ou se recorreria a um de meus contemporâneos, daqui do Ceará, de outros brasis ou de bem longe. Pensei em Airton Monte e seu Bailarinos, cujo lançamento se dará no começo de setembro. Ora, como poderia ler um livro que ainda não existe para mim? Poderia ler Luiz Ruffato, que nasceu em Minas, mora em São Paulo e publicou há pouco Estive em Lisboa e lembrei de você. Mas a obra me foi surrupiada por um amigo: “Lerei hoje; amanhã mesmo devolverei.” Faz dois meses que ouvi a frase. Poderia ser, então, a francesa Catherine Millet, de A Vida Sexual de Catherine M. Não, não poderia ser, porque aquele amigo (dos livros alheios) também me levou Catherine, naquele mesmo dia.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Adeus, Grécia (Emanuel Medeiros Vieira)

(Delacroix, Barque of Dante)

Não bastaram fibra e amor,

cai, Grécia,

universo solar

adequação entre ser e destino,

envelhecemos

– morte na soleira da porta,

fragmentos de sonhos

– só fragmentos –

não a totalidade,

adeus, Grécia,

adeus,

despedidas

– só despedidas.


Ulisses: somos apenas seres virtuais,

Homero envolto em brumas,

homens sem fibra carregando engenhocas eletrônicas,

caindo como folhas ao vento

(prenhes de cobiça – soberbos –, e miseravelmente rotos),

Não, não eram eternos,

onipotência só de papel,

deuses de barro,

TV.


O Espírito sopra onde quer?

Adeus, Grécia,

adeus, pátria dos homens,

adeus, pássaro da juventude,

inunda-nos o lamento de homens afundados –

uma doída lembrança.


De que barro somos feitos?

Não, não só de vileza,

também busca,

mesmo acampados em sucursais do inferno,

caminhando em sombras:

sonho da eternidade pela arte.


Para todos – fúteis, deslumbrados, sábios –

haverá sim – como haverá!,

o momento da Revelação –

e será tarde,

muito tarde.


Adeus, Grécia,

adeus,

desfeitos, como pó, varridas cinzas,

irrelevantes ou – para alguns –

nobres nessa finitude.


Sonâmbulos, clones dos nossos sonhos,

escritores de narrativas epigonais.


Não naveguei nos melhores mares:

preciso navegar – sempre –

infinitamente humano.
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