Para Robinson, Paty, Marina e Cacau
Entre um cliente e outro, eu dava uma chegadinha no terraço e eles estavam todos lá. Esparramados nas poltronas ou espichados no sofá, estavam lá, na vagabundagem, enquanto eu suava no tanque do consultório. Claro que eu reclamava, mas eles nem se mexiam. Para ser mais fiel ao espetáculo, deveria escrever “elas”, pois eram sete mulheres e só um homem, entre hóspedes e gente da casa.
Foi imediata a associação com a cena de uma savana africana num fim de tarde. Aquela hora em que ninguém come mais ninguém, reinando a paz entre presas e predadores.
Fiquei feliz ao ver o terraço da minha casa servir de savana para aquele bando de animais de olhares vagos e conversa arrastada. Todos eles mereciam aquela paz de começo de noite. Quatro deles, o homem, sua mulher e duas filhas, tinham vindo de São Paulo, depois de trabalhar muito, todos eles, em troca de alguns dias de sossego entre os amigos da Paraíba. As outras três, uma avó, uma filha e uma neta, faziam as honras da casa e tiravam proveito do clima de vagabundagem.
A mim, restava sentir inveja de não poder ficar ali, envolvido por aquele miasma benfazejo, deixando o corpo se entorpecer pelo afeto bom e silencioso que circulava entre as criaturas de modos bovinos ou felinos, segundo suas índoles.
O tempo se arrastava no consultório. Édipos, narcisismos, traumas infantis, tudo aquilo me parecia sem sentido. Tinha vontade de dizer a cada paciente que não valia a pena tanto sofrimento. Bastaria que fossem passar alguns minutos no terraço da minha casa. Veriam, então, que tudo o que procuram na vida poderia ser encontrado ali: a possibilidade de conviver em paz com seus semelhantes, como os bichos convivem nos fins de tarde nas savanas.
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