À leitura de Crime na Baía Sul, de Glauco Rodrigues Corrêa, vem a pergunta: o que vem a ser literatura policial? Seria aquela em que o crime aparece como centro motivador da narrativa? Contudo, Dona Guidinha do Poço nunca foi tido como romance policial. Seria, então, a literatura que se circunscreve a narrar crimes? São inumeráveis as obras de ficção, mesmo na fase romântica, que narram, embora às vezes disfarçadamente, fatos criminosos. E aqui tratamos de crime em sentido amplo, ou seja, o ato que fere a moral de uma sociedade. Neste caso, toda a obra machadiana, calcada na infidelidade conjugal, seria rotulada de literatura policial. Aliás, soa mal a expressão “literatura policial”, a não ser que o rótulo servisse apenas àquelas obras onde policiais contracenam com criminosos, vítimas e afins de ambos. Assim, Bar Don Juan será romance policial? Muda apenas a ótica ideológica do autor, pois, neste caso e noutros, a polícia é o bandido e o criminoso vira herói. No entanto, existe outro rótulo: literatura política, de protesto, engajada.
Em verdade, literatura policial é um subtipo de literatura, onde o suspense, o mistério e o crime a ser desvendado são componentes indispensáveis na narração. O leitor permanece “enganado” até o fim, envolvido pelo prazer abstrato, matematicamente calculado pelo autor, no dizer de Temístocles Linhares.
Em verdade, literatura policial é um subtipo de literatura, onde o suspense, o mistério e o crime a ser desvendado são componentes indispensáveis na narração. O leitor permanece “enganado” até o fim, envolvido pelo prazer abstrato, matematicamente calculado pelo autor, no dizer de Temístocles Linhares.
O livro de Glauco Rodrigues Corrêa é, realmente, uma novela policial. A conclusão do leitor, desde o início da leitura até as penúltimas páginas do livro, é a de que o criminoso é aquele sobre quem recaem as maiores suspeitas, embora não seja acusado de nada. Fiel aos lugares-comuns do suspense, o leitor absolve de imediato os primeiros acusados.
Indubitavelmente, Crime na Baía Sul é todo uma perfeita trama. Não do assassino, mas do novelista. Aparentemente, estamos diante de uma verdadeira novela policial, a começar pelo título e pelo próprio rótulo dado pelo autor. A seguir, pelos subtítulos e pelo estilo do personagem-narrador Jerônimo, leitor de livrinhos de bolso, servidor ocioso dos correios na cidadezinha-subúrbio de Santo Anastácio do Roçado, maníaco por escrever uma história como as que lia na repartição.
Até o mais exigente leitor não deixará de ler o livro com atenção e gula. E certamente procurará outras novelas policiais, crente de que sua suspeita não passava realmente de um preconceito.
Sem comparações, Crime na Baía Sul é tão subliteratura como Angústia, de Graciliano Ramos, e outros romances em que o crime é a espinha dorsal da ação romanesca. Trata-se, em verdade, de uma boa novela psicológica e de costumes, atualíssima e cheia de vida.
Tudo estaria bem dito a respeito do livro de Glauco, se transcrevêssemos trechos da crítica feita por Temístocles Linhares ao romance Quem matou Pacífico? Entretanto, basta um trecho: “Mas não estamos – é preciso ir logo esclarecendo – em face apenas de simples romance policial. Há aqui o humano autêntico, o vivido imediato, alguns aspectos essenciais da vida brasileira no interior. O livro é antes uma mistura de romance policial com muitas outras coisas”.
Crime na Baía Sul se diferencia do comum dos romances policiais. Ao contrário destes, a obra em análise tem um personagem criminoso que não deve ser revelado num artigo, a bem de uma leitura inteligente.
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