Terminada a competição, o repórter encontrou o campeão. Queria uma entrevista exclusiva. E pôs-se a fazer os mais levianos elogios ao vencedor. Comparou-o aos deuses da mitologia greco-romana. Chamou-o super-homem.
Para surpresa sua, no entanto, o campeão não só recusou os louvores, como tratou de depreciar o próprio feito. Tudo obra de truques.
O repórter sorriu, certo de estar ouvindo uma brincadeira de mau gosto. Afinal, estava no exercício de sua profissão. Porém, o entrevistando fazia questão de estragar a festa, degradar a competição.
O jornalista mal sabia, no entanto, que realizava a mais importante entrevista de sua carreira.
– Minha vida está no fim.
Nada mais podia ser feito. Todos os exames denunciavam a doença mortal. Os mais eficazes remédios só adiariam a morte.
Questão de dias.
– E como você sente tudo isso?
– Eu me sinto como o viajante com hora marcada para partir. Todos nós vamos viajar um dia. A diferença entre uns e outros está em saberem ou não saberem o horário da partida.
Embasbacado, o repórter não fazia mais perguntas, enquanto o outro falava, sem parar.
– Quem compete se arrisca a trair, mentir, fraudar. E quem compete tem consciência disso. Muitas vezes os melhores não participam de competições. Preferem ser os melhores apenas para si mesmos. E para aqueles que não vão às arenas aplaudir os gladiadores. Assim, o melhor poeta não é o ganhador do Prêmio Nobel.
Com certeza o homem delirava ou enlouquecera. Talvez a emoção da vitória tivesse perturbado os mecanismos centrais de seu cérebro. Precisava repousar, dormir.
– Não quero falar da Igualdade, porque ela se confunde com a Utopia. No entanto posso continuar falando da mentira, da traição, da fraude. Posso dizer, por exemplo, que nas compe-tições todos se igualam: competidores, julgadores e espectadores.
– Vá dormir, campeão.
– Há ainda a competição primordial, entre o ser e o não-ser. E esta é sem significado, completamente inútil.
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