Chamego, o Urubu, de Paulo Nunes Batista, é produto de laboratório, de fazer artesanal. Comecemos pelas histórias que têm por pano de fundo o mundo místico, fantasioso, misterioso do candomblé, do espiritismo. São obras de quem pesquisou, esteve de corpo presente em terreiros de umbanda e outros sítios congêneres.
Nordestino, Paulo Nunes não deixa de inventar ou reinventar histórias em que o linguajar da região Nordeste é marcadamente parte do entrecho. O linguajar goiano também se faz presente na obra do autor, que há alguns anos vive em Goiás. Em suma, a cultura popular é essencial nesta obra. Daí ser Paulo Nunes um herdeiro dos antigos contadores de histórias, sem deixar de ser um estilista.
Nordestino, Paulo Nunes não deixa de inventar ou reinventar histórias em que o linguajar da região Nordeste é marcadamente parte do entrecho. O linguajar goiano também se faz presente na obra do autor, que há alguns anos vive em Goiás. Em suma, a cultura popular é essencial nesta obra. Daí ser Paulo Nunes um herdeiro dos antigos contadores de histórias, sem deixar de ser um estilista.
Este livro é literatura da melhor qualidade. No entanto, quero destacar dois momentos dele. O primeiro intitula-se “Sempre”. É alegoria, conto alegórico, o que seja, de ímpar invenção. O outro dá título ao todo. Talvez a mais bem realizada página do conjunto. Uma obra-prima.
Paulo Nunes Batista é naturalista, neonaturalista, descritor de seres singulares. Seus perfis psicológicos e físicos são irretocáveis, como nas pinturas impressionistas.
E a poesia? Sim, há momentos de intensa poesia na prosa desse paraibano-goiano. Mesmo nas histórias mais macabras. Veja-se o início de “Monstro”, o ritmo, a cadência das frases. O mesmo se pode dizer do poético-filosófico “Homem ou o quê?”
Este livro é composto de histórias dos mais variados gêneros. “Naninha” é crônica que só cronistas muito sensíveis poderiam compor. Assim também “O último Natal de Mané Saia”. Pungentes. Há também relatos e capítulos de memórias. “O cinto” é escrito de quem habita o território dos espíritos. Depoimento, se quiserem.
Nem tudo em Chamego, o Urubu é água límpida. Ora, ninguém atinge a perfeição em criação artística antes de alcançar a eternidade. Não é demérito isso. Se este poeta nordestino tivesse escrito o mais belo livro em prosa da Literatura Brasileira, certamente não continuaria escrevendo. Pois há neste livro pelo menos duas narrativas muito espichadas, derramadas, excessivas: “Toinhão” e “Interrogatório & Cia Ltda”. Se sofressem alguns cortes, enxugamentos, o sabor de outras histórias estaria neles presente. E o laboratorista Paulo Nunes Batista daria por encerrada a sua missão no laboratório da palavra escrita.
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