Histórias para crianças e para adultos. Sim, há limites separando umas de outras. Todavia esses limites se tornam imperceptíveis para o leitor ou adulto e mais ou menos familiarizado com a boa literatura que lê uma dessas narrativas para crianças e não sente necessidade de a rotular de “história infantil”.
Os estudiosos costumam chamar de “literatura infantil” e “literatura infanto-juvenil” as obras menores. No entanto, as obras maiores eles não as chamam de “literatura adulta”. Talvez pudéssemos inventar outros rótulos, como “literatura madura” e “literatura idosa”. Uma seria destinada às pessoas entre 30 e 60 anos, mais ou menos. Outra, às pessoas da chamada “terceira idade”. Denominação também adequada a esta última categoria seria “literatura senil”.
Alguns escritores (sobretudo narradores) têm se dedicado a escrever para crianças. São escritores infantis e, ao mesmo tempo, senis. Porém, há alguns anos, pessoas como Jonathan Swift escreveram com enorme criatividade, e suas obras foram e serão lidas, sempre com muito prazer, por crianças, jovens e adultos.
Alguns escritores (sobretudo narradores) têm se dedicado a escrever para crianças. São escritores infantis e, ao mesmo tempo, senis. Porém, há alguns anos, pessoas como Jonathan Swift escreveram com enorme criatividade, e suas obras foram e serão lidas, sempre com muito prazer, por crianças, jovens e adultos.
Escritores infantis são aqueles que estão aprendendo a escrever. Os senis são os que nunca aprenderam a escrever.
O poeta Wilson Pereira é também autor do belo livro de narrativas Amor de Menino. Segundo os especialistas em Literatura, trata-se de obra da Literatura Infantil. São histórias de meninos e animais. Ou somente de animais, como a do jerico e da onça, que é uma anedota escrita em linguagem trabalhada e poética. Aliás, o livro todo traz essa linguagem dos bons escritores, dos escritores sem idade definida, mas que nunca chegam à senilidade mental.
Wilson Pereira tem o domínio das técnicas de narrar. Seus personagens são acabados, desenhados, embora os “meninos” sejam sempre meninos, sem grande distinção entre uns e outros, como se todos eles fossem uma criança chamada Wilson. “Ser menino era mesmo muito bom”.(p. 16).
Tudo nas curtas narrativas de Amor de Menino é passado, é infância, é poesia. Não há miséria social, embora hajam dor e morte. Há medo, há os sentimentos comuns a todos nós humanos e, sobretudo, a nós meninos. A poesia da infância. Não poesia infantil, que poesia pueril não chega a ser poesia.
Curiosamente, não há diálogos em nenhuma das histórias do livro. Assim, a linguagem se mantém limpa, trabalhada. Caso Wilson tivesse optado pela utilização do discurso direto, reproduzindo o linguajar rural e infantil, certamente a linguagem não teria a beleza que tem.
O ambiente rural brasileiro, especificamente mineiro, é pintado no livro com riqueza de detalhes: “Manhãzinha fria de inverno. O capim, molhado de orvalho, estava verde-grisalho”.(p.22). As situações são sempre reais e, ao mesmo tempo, de sonho, fantasia. O mundo da criança ou o mundo dos bichos segundo a criança. Daí alguns contos de flagrantes, às vezes episódios de memórias, quase crônicas, como “Arengas”.
As ilustrações de Denise Rochael se casam maravilhosamente aos textos de Wilson Pereira. O traço é primitivo, as cores apropriadas às narrativas e a perspectiva foge à técnica mais tradicional.
As histórias de Amor de Menino são de fácil leitura para crianças, embora não sejam nada infantis, pueris, inacabadas. Pelo contrário, são narrativas de um escritor amadurecido, bom, apto a outras realizações literárias.
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