(Oscar Bertholdo, 1936/1991)
A estréia de Oscar Bertholdo em livro se deu em 1967, com Matrícula. Seguiram-se As Cordas (1968), O Guardião das Vinhas (1970), A Colheita Comum (1971), Poemimprovisos (1974), Lugar (1976), Ave, Árvore & Tempo de Assoalho (1979), Informes de Ofício & Outras Novidades (1982), Canto de Amor a Farroupilha (1985) e outras obras, algumas delas premiadas em concursos de âmbito nacional. Em 1986 a Companhia de Escritores, de Farroupilha, RS, publicou as suas Cantigas. São oitenta cantigas, todas elas de cinco estrofes de quatro versos cada. Não se tratam de composições à maneira dos trovadores ou assemelhadas aos poemas típicos dos primórdios da literatura galaico-portuguesa. Oscar reinventa a velha cantiga e cria a sua própria maneira de compô-la.
Poeta essencialmente lírico e telúrico, não faltam em seus versos o canto das vindimas, das uvas maduras, “o gosto montês das uvas”, do vale, da aldeia. Em “Cantiga dos Cheiros” diz: (...) “o poema pôs-se de cócoras / para oferecer-me as uvas”.Em “Cantiga Sumarenta” encontramos: “As uvas todas as manhãs / aceleram doçuras, / se estendem ao sol / e aos desejos da gula”.
Oscar Bertholdo soube, como poucos, cantar, com insistente amor, a sua terra, “o vale”. Em quase todas as cantigas são cantadas a sua terra, as pessoas e as coisas dela. “Cantiga Local” começa assim: “Esses verdes vales, duros quando não / estão conosco, deixam-se tocar e sem cautela / continuam anteriores a todas as distâncias / e prendem-me às palavras acionando exílios”.As coisas de sua predileção são a casa, o alpendre, a “candeia acesa sobre a mesa” (a capa do livro traz uma belíssima fotografia, em preto e branco, de uma candeia acesa), a lamparina (há uma “Cantiga da Lamparina”), os pomares, o carinho de lomba, as cestas, a mesa das refeições. A aldeia é tema constante em sua poesia. Em especial, as ruas da aldeia, como em “Cantiga Aldeã”: “As pequenas ruas da aldeia / são fiéis à mesma poeira / acumulada ao redor dos plátanos,” (...). E em outra estrofe: (...) “as silenciosas ruas da aldeia / onde anjos brincam de meninos” (...)
Diversas cantigas são dedicadas à poesia, ao fazer poético. Em “C’antiga”, a primeira do livro, Oscar anuncia: “Vou fazer do poema / meu país de estar / onde a véspera não existe, / só o hoje e nada mais”.E muitas outras se seguem, falando de como é ser poeta, como é fazer poesia, o que é poesia.
São também singelas as cantigas de amor: “Cantiga Amada e de Amor”, “Cantiga de Núpcias” e outras. Em “Cantiga íntima” ele escreveu: “Hei de amar desde e sempre / entre fadigas e frutas, / trago-te terra sol odores / horas de longas ternuras”.
Oscar Bertholdo deixou uma obra poética não muito vasta, porém bastante significativa. E está a merecer reedição, talvez a reunião de todos os poemas em um ou dois volumes. Porque poetas como ele não podem cair no esquecimento. Não podem morrer. E não morrerá mesmo, porque, como ele escreveu, “Não se morre ao morrer” (“Cantiga Viática”).
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