Como um cartão de visitas ou, quem sabe, um ato de contrição, os editores de Doze Poetas Alternativos, retomando velha polêmica, defendem uma arte de participação, aos brados de “nunca a arte só pela arte”, título da nota explicativa do livro. Fossem os poemas contidos no livro excelentes textos literários, e a apresentação seria desnecessária.
Alguns poetas tratam de mazelas sociais, da construção de uma usina nuclear, da miséria no Nordeste. Outros traçam perfis machistas e delineiam traços de uma lamentação feminista, como Rosa de Lima. Ao pé destes, Rô Fernandes emaranha pensamentos, como costumam fazer os adolescentes nos cadernos escolares. Os grandes vencedores dessa maratona de versos são, contudo, o amor, o encontro amoroso, o ato sexual, o corpo, de variadas formas poetizados, como nos “Cinco Poemas de Amor”, de João Carneiro, e até num canto à Lua.
Tratando-se, como se trata, de uma reunião de poetas ditos alternativos, não poderia faltar uma homenagem ao príncipe dos poetas “marginais” Nicholas Behr, processado por divulgar sua poesia trocista. Também nada mais natural no livro do que um elogio ao canhoto.
A coletânea traz poetas procedentes de variadas regiões, de Portugal, brancos e negros, machos e fêmeas, inéditos e publicados, e, por isso mesmo, até versos que nos lembram Camões:
“Pois assim é a minha vida
que de tão vivida já valida o sofrimento.”
Levando-se em conta o ato de contrição dos editores, nada há a perdoar. Entretanto, livros como este poderiam ter melhor destino, se os poetas alternativos lessem mais, escrevessem e reescrevessem mais. Teríamos mais poemas como os últimos versos de “Utopia” e poucos pensamentos do tipo “cada vez aumenta mais o meu vazio por querer te abraçar e não poder”.
Quíntuplo é uma coletânea de quase duzentas páginas de poemas de cinco poetas. Alberto Cunha Melo é o primeiro deles. Seus vinte poemas, todos escritos na forma de quartetos de cinco estrofes, em metro octossilábico e sem rima, são de singular beleza. Como “Apedrejamento de Terêncio”, “Blindagem” e outros.
Jaci Bezerra inicia com um longuíssimo e bem construído poema, intitulado “Expositiva da cidade do Recife”. Como o primeiro, ele constrói seus poemas em forma de quarteto. Sua poesia tem uma característica especial: toda ela está bebida nas águas salgadas e longas dos mares. É um “secular e severo marujo” da poesia.
José Carlos Targino é poeta visionário, universal, fantástico, bíblico. Além dessas características, nota-se em sua poética uma profunda influência grega, das lendas e dos mitos. Notória também a diversidade de formas. A primeira peça, por exemplo, é um poema-prosa de rara singeleza, intitulado “Espíritos do Ar”. Outra peça extraordinariamente bela é “O Sermão”.
João Landelino Câmara é poeta preocupado com a geografia. Um andarilho do verso. Ao lado de poemas de feição modernista há verdadeiros instantâneos do cotidiano em sete belos sonetos. O poema “Xácaras” é ótimo. Encerram o volume as “pinturas” de Severino Filgueira. Seus poemas, diversamente dos de Targino, são quase que de uma mesma feitura, sem divisão em estrofes.
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