Jacques olhou para a cama e sorriu. Isabel despia-se, lentamente.
— Posso acender a luz? — ele perguntou.
Haviam se conhecido duas ou três horas atrás. Num cinema. A história de Joana d’Arc sempre o interessava. Além do mais, gostava de filmes. Isabel, porém, não se lembrava de algum dia ter ouvido qualquer referência à donzela de Orléans.
Logo no início da projeção, trocaram olhares e algumas palavras. Jacques viu certa rudeza em Isabel. Não estava gostando da fita. E parecia não ler as legendas. Entendeu perfeitamente, porém, a cena grotesca em que a famosa ré foi queimada viva.
À saída do cinema, Jacques acompanhou Isabel. Perguntou se tinha compromisso. Poderiam conversar mais. Se ela tivesse interesse, contaria outros detalhes da história de Joana d’Arc. Depois — pensou — iriam a um motel. Afinal, a moça era bonita e parecia disposta a aventuras.
— Jeanne d’Arc é heroína e mártir — explicou.
Pararam diante de uma lanchonete. Cheiro de frituras, gente se acotovelando. Melhor irem a um barzinho.
Jacques se pôs a falar das lutas entre franceses e anglo-borgonheses, do reinado de Carlos VII, da prisão de Joana no castelo de Rouen, do Tribunal da Santa Inquisição. Quando encontraram um bar, Isabel parecia aborrecida.
— Você quer o quê?
Ela olhou para o garçom, como a pedir ajuda. Talvez um uísque. O mais caro que houvesse.
O rapaz percebeu, então, que não precisava mais demonstrar erudição. A moça estava rendida.
— Você defende muito essa Joana — ela se atreveu a dizer. — Para mim a morte dela foi merecida.
Jacques ingeriu, de um gole, a bebida. Não sabia se devia rir ou ouvir o resto da opinião de Isabel.
— Mulher não pode agir como homem — sentenciou a moça.
No meio da segunda dose, Jacques mudou de assunto. Gostava de mulheres ousadas.
— Como você.
Ela sorriu. Também gostava do jeito dele. Parecia fogoso, ardoroso, apaixonado.
Jacques disse adorar as mulheres que se consumiam no fogo, no amor.
E se retiraram, abraçados.
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