Dalila falava de Sansão. Contava casos, proezas. Eu me impressionava. Sempre me impressionaram mulheres bonitas e, ao mesmo tempo, decididas, corajosas, ousadas. A beleza delas talvez me venha dessas qualidades.
Cativo dela, perdi a timidez e fiz a pergunta-chave: por que traíra Sansão? E a resposta veio categórica: porque não gostava dele.
E Dalila ria, quase gargalhava, ao relembrar Sansão sem cabelos, enfraquecido. Eu também ria, contagiado pelo riso dela. E encantado de sua beleza. Outros teriam medo, fugiriam ou nem sequer dela se aproximariam.
Estávamos numa casa rústica. Só nós. Eu imaginava como seria o resto do dia. Ela falaria o tempo todo? Não sairíamos a passeio pelo bosque? Não nos banharíamos no rio? E o almoço? Não, eu não sentia fome ainda. Só desejos. Com certeza, antes da noite estaríamos na cama. Porém eu suportaria espera tão longa? E nem mais queria falar de Sansão, por mais simpatia que tivesse por ele. Um herói, sem dúvida. Um grande herói!
Tomamos licor, ouvimos música e perdi de vez a timidez. Falei de mim mesmo, contei piadas, cantei. Nunca tivera tão perto mulher como aquela. As outras mal conversavam, não tinham passado, só ânsias. E depois não restava nada. Nem saudades. Se belas, faltava-lhes vida. E eu as esquecia logo. A seguinte apagava da memória a anterior.
— Você é mesmo a Dalila de Sansão?
Ela riu, pediu licença e se retirou. Iria buscar a tesoura? Para que, se meus cabelos eram curtos? Não tive medo ainda. Talvez ela voltasse nua e ali mesmo na sala se entregasse a mim. Num minuto voltou. Trazia uma bandeja reluzente e sorria, como sempre. Pensei no almoço. E senti fome.
— Não precisava se incomodar.
Aproximou-se de mim.
— Trago a prova: a cabeça de Sansão.
Horrorizado, acordei.
/////