Chamava-se Ícaro. Belo rapaz, apaixonado por aventuras perigosas. Sobretudo aéreas. E quantas quedas, quantas decepções! Desde muito criança experimentava os mais variados vôos. De cima de muros, de galhos de árvores. Sempre incentivado pelo pai. Um sujeito meio louco chamado Dédalo.
— Engraçado, pai, eu sempre pensei que o senhor fosse grego.
Dédalo dizia gostar de boas mentiras. Com isso sempre alcançava seus objetivos. Assim conquistara sua mulher, dizendo-se engenheiro.
— Mas o senhor construiu o labirinto, não foi?
Dédalo ria, gargalhava. Não, nunca construíra nada. Mais uma mentira fabulosa de sua vida.
Ícaro também ria. Enquanto se preparava para mais uma aventura. Iria voar pelos céus.
Ajudado pelo pai, amarrava a si umas enormes asas. Voaria até perto do sol.
— Pode ir, meu filho.
E ele decolava. Partia lentamente, a poucos metros do chão. Batia as asas, subia mais, impunha-se velocidade. Olhava para baixo. O pai se reduzia a quase nada, assim como as casas, as árvores, a própria Terra. Avistava estrelas, que cresciam a cada instante. Um prodígio voar, andar pelo espaço, pleno de liberdade!
Ria, quando avistou um objeto vindo em sua direção. Um meteoro? Um disco voador? Um pássaro? E se o atingisse?
O objeto voava célere contra ele. Um pequeno avião. Aguçou a vista. Havia um homem no aparelho. Podia ver, com nitidez, uma inscrição na parte externa do avião: 14-Bis. E as feições do homem: Alberto Santos Dumont.
Acontecia então o choque. E suas asas se espatifavam. Tonto, caía velozmente.
Num átimo, chocava-se contra o chão, feito uma fruta caída do galho. Em pleno labirinto de Creta.
Estirado na cama, olhos grudados no teto, Santos Dumont gritava.
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