Três dias antes de morrer, Jean Anouilh recebeu a visita de Jorge Menezes. Testemunhas oculares referiram-se a um grande susto do dramaturgo. Jorge apresentou-se em trajes de coveiro. E, pior, leu trechos de seu drama ( ou dramalhão, como diziam alguns críticos ) “Covas, o democrata do Inferno”.
Falaram em mau agouro. Inimigos do dramatista afirmaram ser ele responsável pela morte de muita gente. Sobretudo de colegas de arte. Assim, ficaria só no cenário do teatro brasileiro. Teria pauta com o Diabo. Ou poderes maléficos. Um bruxo, enfim.
Jorge Menezes dizia ter nascido em Oeiras, Piauí. E disso se vangloriava. Ser oeirense causava-lhe orgulho. Muito mais do que ser piauiense e brasileiro. Falava sempre da antiga capital do Piauí. E chegou a escrever o drama Major Fidié, onde narra batalhas travadas entre portugueses e brasileiros durante as lutas pela Independência. Cenário: Oeiras.
A primeira mulher de Menezes dizia, no entanto, ser ele natural do Rio de Janeiro. O pai português de Trancoso. A mãe brasileira e mulata. Mais de dez irmãos, todos pobres.
Começou motorista de madame de Ipanema, fez-se amigo de jornalistas e boêmios, formou-se em Comunicação Social e decidiu ser dramaturgo. Não perdia uma só encenação de Nelson Rodrigues.
É desse tempo a obsessão por fantasias. Vez por outra aparecia vestido de padre, palhaço, mordomo, coveiro... Dizia estar vindo do teatro. Sim, além de escrever dramas, representava.
Ligado ao Partido Comunista e amigo de diplomatas de direita, em 1986 Menezes viajou à Europa. Não gastou um centavo. Hospedou-se em hotéis cinco estrelas, jantou nos melhores restaurantes. E ainda namorou beldades do cinema. Diz ser pai de um dos filhos de certa Sandrine Deneuve. E que Alain Resnais se interessou muito por seus dramas. Para transformá-los em filmes.
Em Paris, Londres, Roma frequentou redações de jornais, teatros, cafés, livrarias. Conheceu escritores, atrizes, jornalistas e, sobretudo, gente de teatro. E acabou responsável pela morte de Anouilh. Aproveitou-se da acusação para escrever o drama Caro Jean, pasticho de Caro Antônio, do francês. Nunca encenado. Segundo Jorge Menezes, por culpa de Anouilh.
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