Eu levo um dragão comigo.
Outros têm um gato, um cão,
um passarinho, um lagarto,
um sapo, uma tartaruga
por bicho de estimação.
Eu,
tenho um dragão.
Se o dragão é meu amigo
não sei: ele me devora
mente, sonhos, coração.
Ele rouba o que eu escrevo
mesmo antes que o tenha escrito,
me embaralha os pensamentos,
faz sentir o que não sinto,
namora a mulher que eu sonho
e inda me chama de irmão.
Carrego um dragão comigo
como quem leva o seu cão.
Uns alimentam no peito,
a vida toda, um poema
ou qualquer outra ilusão:
capa de herói, luz de sábio,
halo de santa paixão.
Eu alimento um dragão.
Ele me esfola, me estripa,
me cospe fogo, me engana,
ah! e diz que é meu irmão.
Ele me mata! e é, no entanto,
quem me permite viver.
Eu tenho um dragão comigo,
meu irmão, meu inimigo,
meu sósia e minha abusão;
e ele sou eu, que sou ele,
e é meu verdugo e meu cão.
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