A noite em minha terra é como o rio:
Vai passando o luar, vai suspirando;
Ora um roncar no alto se espalhando;
Ora um soprar do vento denso e frio!
Não vacila ou reflete num desvio:
Prossegue calma, triste, despejando
O orvalho que do céu vem derivando
À conquista dum peito doentio!
Além voa um ......................... lamento*
De algum amor vadio e penitente;
Chora o luar em lágrimas, demente.
... E na calma do amor, do sofrimento,
Olhos que choram, riem transfundindo
O amor da natureza refletindo!
Fortaleza, 17/5/58
* Não foi possível ler, nos originais, a palavra que antecede "lamento".
Ailton Maciel deixou alguns inéditos. Ailton Alves Maciel (nome completo) nasceu em Baturité, Ceará, em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances.
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