PALÁCIO NEGRO (ALCÂNTARA-MA)
Para Luciano Maia
É um palacete e pesa neste chão
que afunda nas ruínas, sempre lerdas;
estas fazem pensar ganhos e perdas,
gemendo as telhas sobre o casarão.
O limo cresta e nada lhe diz não;
paredes e janelas, hoje esquerdas
ao fasto inútil delas restam cerdas
da escova a reluzir no jaquetão.
Pedras são de Lioz . O tempo rouco
nos quer tirar do solo provisório,
mas o sonho é maior do que ser pouco.
Uma foto de Alcântara: o olhar
que ainda nos vê de um ponto obrigatório...
tudo sabe que a culpa foi do mar.
SONETO DE ALCÂNTARA II
(os dedos do anjo)
Um anjo sorridente é ver-se além
da pedra e do barroco no detalhe
sobre ferro lavrado ou nesse entalhe
da madeira senhora de ninguém.
Ao modelar-se ao fogo o aço tem
quimeras e portais; que se trabalhe
a fé neste suplício talhe a talhe
que ao pó se deitam como ao pó se vem.
Condes, barões, ourives, comerciantes,
torres, fachadas, ícones, postigos,
são torvelinhos: dormem nos mirantes.
Anjos indicadores, estes, sim,
têm seus dedos na base dos perigos,
apontam sempre para o mesmo fim.
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