(Aldo Bonadei, Abstrato, 1962)
encerrado no corpo
encapsulado
também preso à carceragem do tempo
– a pele (limite úmido e quente com o mundo)
rasgada pelos grafitos do acaso
rasuras arabescos (e
toda subtração
que as provisões do que há por dentro possam suportar)
a pele percebe que você quer sair – e arma a estratégia
que lhe contém.
(tem a ver com a raiva do corpo:
só o corpo odeia com a impureza de um hormônio
e ama com a mesma impureza
– a alma contaminada nem gravita em torno
com uma vaga impressão
daquilo que se apreende
ao universo torto:
consciência é mera distorção)
foi nos becos sujos desta alma (ou corpo?)
que falanges de anjos excluídos de olhar vago
fortemente armados
sitiaram os desejos os projetos
num último bonde antes do apocalipse
entre projéteis
e um deles (o que sorria)
olho no olho
quando seu joelho tocou a terra
esculachou:
perdeu maluco
perdeu
encerrado no corpo
o mundo é o que lhe foi amputado
porque pulsa e é sempre
além
por mais que você
se jogue em qualquer
abismo
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