Resumo: O narrador de Dom Casmurro, em leituras possíveis, deseja provar a culpa de sua esposa. Assim, desenha uma menina/mulher Capitu como adúltera em potencial, dissimulada e diabólica. De acordo com Mary Del Priore, ‘Capitu foi descrita com todos os ingredientes de um diabo de saias’’. Essa descrição não foge às representações históricas nas quais as mulheres não só provocavam o mal, mas também seriam capazes de levar um homem à perdição. As representações femininas, construídas sob forte influência do patriarcalismo, estavam fortemente associadas à malignidade que precisaria ser domesticada, sobretudo pelo marido. A Capitu ambígua, vilã, vítima, uma discreta feminista antecessora do feminismo, com olhos de cigana oblíqua e dissimulada, inspirou autores do século seguinte a criar contos, romances, filmes e outras manifestações artísticas. Muitas delas foram criadas depois do advento do feminismo e da abordagem teórica de que feminilidades e masculinidades são construções históricas, portanto, variáveis. Pensando no avanço das discussões sobre a redefinição de papéis masculinos e femininos e tentativas, inclusive teóricas, de desnaturalização das hierarquias de poder, pretende-se com este trabalho investigar em textos - como os contos Dez Libras Esterlinas, de Nilto Maciel, e Capitu: para que saber, de Lya Luft, – que dialogam com Dom Casmurro e cuja narração é conduzida por Capitu, e não mais por Bento Santigo, se ocorreram mudanças na representação da principal personagem feminina de Machado de Assis.
Bibliografia
BOSI, Alfredo. Historia concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Cultrix. 2004.
FERNANDES, Rinaldo. Capitu mandou flores. São Paulo, Geração editorial, 2008.
SCHPREJER, Alberto.(org.).Quem é Capitu? Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2008.
STEIN, Ingrid. Figuras femininas em Machado de Assis. Rio de Janeiro, Paz e Terra,1984.
/////