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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Poemas de Inocêncio de Melo Filho

(Inocêncio de Melo Filho)


Ofício


Perco-me entre palavras


E sílabas inquietas.


Quando volto a mim


Sinto-me abatido.


Tu me chamas, fecho o livro,


Nego-te os ouvidos...






Sólio


Este trono de merda é só meu


Trono fétido por natureza,


Se é que tem natureza o objeto de sua constituição...


É nele que faço minhas leituras


É nele que busco palavras


É nele que busco poemas


É nele que cago e mijo.


Este trono de merda é só meu


Não o divido com ninguém


Comprei-o com meu próprio dinheiro


Finquei-o à terra usando minhas forças


Trono plebeu!


Trono fétido!


Trono verde indivisível...






Defesa


Eu sou inofensivo, senhores,


Trago enigmas fatigados nas mãos


E fartos cabelos brancos na cabeça.


Minhas pálpebras estão exaustas


E o meu olhar nega-se a contemplar


Esse mundo caduco.


Este céu que nos cobre causa-me tédio.


Mas ainda há palavras em minha boca, posso feri-los


Posso jogá-las no vácuo ou aprisioná-las


Entre as unhas.


Senhores, sou inofensivo,


Verbalizar sentimentos não significa


Um ataque,


Concretiza o medo que se faz defesa.






Insulto


Que fique na tua boca


O meu hálito fétido


Como resposta


Aos teus insultos...

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