(O cronista e a falta de tempo para ler tudo)
Os mais recentes vieram de São Paulo (Daniel Lopes), Itapema, SC (Pedro Du Bois), Crato, CE (Emerson Monteiro), Brasília (Alaor Barbosa e Lustosa da Costa), Goiânia (Valdivino Braz), Mangaratiba, RJ (Emil de Castro), e Madri, Espanha (Manuel Garcia Centeno).
Conheço Alaor, Valdivino, Lustosa e Emil, de longas datas. Convivi com o primeiro por muitos anos, em Brasília. O segundo é de frequentar minha casa e de me receber na sua. O terceiro é meu conterrâneo e habita também a capital federal, sem deixar de visitar a cearense de vez em quando. O quarto nunca vi, mas com ele me correspondo há cerca de 30 anos.
Comecemos, pelo final da relação. Ou pelo mais longe de mim. Manuel Garcia “vive entre Madrid e Zalamea”. Nesta nasceu, em 1947. O livro que me mandou se intitula ¡Chachó! Contos curtos ou relatos (como está abaixo do título). Apenas 60 páginas. Impresso na Itália: Capri Leone, Messina, 2010. O primeiro parágrafo do primeiro relato é este: “Observé unos ojos ansiosos y sorprendidos que me miraban con fijeza tras la puerta entreabierta”. Infelizmente, não terei tempo de ler mais. Outros livros me esperam. Meus olhos estão ansiosos.
Daniel Lopes achou meus blogs e me mandou uns contos. Gostei do seu modo despojado de narrar, o desapego à norma culta. Agora me mandou exemplar de seu É preciso ter um caos dentro de si para criar estrela que dança. Reunião de contos. Edição do autor, 2008. Ou do site WWW.osviralata.com.br Assim o povo brasileiro fala: não usa o substantivo no plural. Daniel também emprega palavrões, gosta de narrar (contar) e de dar voz aos personagens (não deixa para trás os travessões). Escreve como se fala.
Também o gaúcho Pedro Du Bois me achou na Internet. E passou a me mandar poemas todo dia. Como é bom poeta, não deixo de publicar os poemas dele nos meus blogs. Agradecido, presenteou-me dois volumes de versos: Desnecessidades reentrâncias & alguns reingressos e Concretude da casa, ambos de 2009. Não transcreverei aqui versos dos livros. O leitor os encontrará em pedrodubois.blogspot.com
O outro que não conheço é Emerson Monteiro, cearense de Lavras da Mangabeira, terra dos poetas Filgueiras Lima, Linhares Filho, Batista de Lima e Dimas Macedo. O livro recebido por mim intitula-se É domingo (João Pessoa: Edições Fabulação, 2006). Nada de versos; são crônicas e contos ou “narrativas de proveito”, como está sob o título.
Agora chego aos livros dos amigos. O de Lustosa da Costa é Sobral que não esqueço (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2010). Dito de memórias. Como quase todas as obras do jornalista. Lustosa é incansável escritor. Sempre apegado ao Ceará. Vive em Brasília desde 1974, mas não esquece Sobral nunca: “Este é mais um livro tendo Sobral, capital da civilização do couro no Ceará, que elegi como minha e como principal tema de meus escritos”. Falta algum vocábulo na frase, mas o leitor entenderá. O título da introdução do livro é “Não sou universal, sou apenas municipal”.
A obra recebida de Alaor Barbosa é o romance Memórias do nego-dado Bertolino d’Abadia (Goiânia: AB Editora, 1999). Epígrafes de Camões e Shakespeare. Cerca de 300 páginas. Tem início assim: “Este texto das memórias do singularmente aventuroso e desventurado goiano de Imbaúbas Bertolino d’Abadia, anotadas pelo ilustre advogado Rafael Santoro Noronha, está guardado comigo faz muitos anos.” Lembra Cervantes? Nas abas se lê o anúncio: “Poderosa criação literária, a um tempo rica em imaginação e em verdade documental, densa narrativa,escrita em linguagem apurada, base firmíssima da sua previsível perenidade. Há muito tempo não se vê aparecer,no Brasil, um livro tão bem escrito.” É ler para conferir.
Do também goiano Valdivino Braz é outro romance: O gado de Deus – Livro do Ressentimento (Goiânia: UCG/Kelps, 2009). Há semelhanças entre um e outro. Num “esclarecimento e advertência” o escritor adverte: “Fruto azedo do advento 64, este romance, sazonado entre os anos 80 e 90, inicialmente intitulado como As dores da terra antiga – agora O Gado de Deus, com outras dimensões, mantido o fulcro original –, seria o primeiro livro de uma espessa obra, desenvolvida há décadas, a espaços esporádicos, anunciada e sempre protelada, ainda por terminar, estacionada em estado caótico. Ambicioso, pretensioso, megalômano projeto”. Valdivino apareceu há alguns anos como contista (dois volumes) e poeta (dez). Como Alaor, meu amigo Braz sabe escrever.
Estou perdendo o fôlego. Mas ainda posso falar do livro de Emil de Castro: Vozes do mar (Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2009). São poemas. Poucos e curtos. A primeira parte tem o mesmo título do volume. Poemas sem título. A segunda é “Exercício de marujo demente”, com 17 poemas titulados. Emil tem diversos livros: poesia, ensaio, história, infantil. O primeiro, em 1969: O relógio e o sono, de versos. Se se entusiasma com o mar (a vida), consegue se conter no dizê-lo: “Vão lentos / soprados / pura paina / espuma sobre o mar. / Se perdem no longe”.
Também consigo me conter ao escrever.
Fortaleza, 28 de maio de 2010.
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