Depois de ler minha crônica "Alma perdida na biblioteca", a escritora Astrid Cabral me mandou o seguinte comentário, que é uma delícia:
Querido Nilto,
gostei muitíssimo de sua crônica. A verdade é que nós escritores somos viciados em letras: Ou elas saem de nós, ou entram em nós. Tal o ar que respiramos. O circuito é contínuo e intenso. Um fanatismo, como define meu filho Alfredo. Mas acontece que o dia tem só 24 horas, as editoras não param e nosso ritmo não acompanha essa fecundidade. Como já dizia o Drummond, à noite os papéis copulam. E não há olhos nem boca humanos para digerir toda essa fartura, essa avalanche de folhas.
Confesso que às vezes me sinto mal por não dar conta de ler tudo o que gentilmente recebo. ( Aproveito para pedir mil desculpas por ainda não ter relido os Contos Reunidos que me chegaram em fins de 2009 !) Hoje mesmo chegou-me de Minas um embrulho com 13 livros (isso mesmo, contadinho).
Chego a ter saudade daquela disponibilidade da juventude, daquele anonimato confortável. Agora não compro mais estantes nem invento novas prateleiras. De vez em quando encho sacolas que deixo em bibliotecas públicas. A grande maioria dos livros são só farejados. Com o livro digital o problema do espaço e da poeira estará solucionado, mas o da disponibilidade temporal é insolúvel. Mas que fazer? Penso que no seu caso a situação é pior pelo fato de manter blog e ter sempre editado uma revista famosa. Meu abraço apressado. Estão me chamando pro jantar. Astrid
(26/8/2010)
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