Confusão. O suor escorria pelas têmporas, ele apertava os olhos, erguia as sobrancelhas, esticava o indicador; um calafrio perpassava o corpo, a mente quase explodindo, milhões de números na corrida do futuro. O peso de fazer a escolha errada dominava. E, agora, o que fazer?
– Vota! – gritou o mesário.
– Você demora demais, a fila é muito grande! – gritou a outra.
A pressão aumentava, a mental e a corpórea; são tantos cargos políticos em quem votar pra cada um?
– Apresse, moço!
– O Brasil não tem futuro, não! Vota em qualquer um!
Diante disso, Alberto quase entra em estado de choque. Como pode o cidadão tratar dessa maneira o futuro da nação? O voto é tão banal assim? Alberto iniciou essa discussão com o mesário.
– Essa não é a hora de refletir qual o melhor candidato, senhor. A campanha serve para isso.
Errou Alberto, errou o mesário.
– A pressa é inimiga da perfeição.
– A demora é inimiga do tempo e da população.
Alberto digitou os números que venceram a corrida em sua mente. A tecla verde o encarava como num pesadelo que duraria quatro anos. A culpa por não dar atenção às campanhas eleitorais dos candidatos o possuía e, antes que mais alguém gritasse, Alberto apertou a tecla verde. O som da urna encheu a sala e todos os mesários, antes em pé, se sentaram aliviados.
Foi a confirmação de que ninguém dá valor à eleição. Nem mesmo o mesário, que tem o dever de mostrar a importância desse fato histórico. Alberto confirmou que todo cidadão, não importa a eleição, não reflete durante as campanhas sobre qual o melhor candidato, e, no melhor estilo brasileiro, deixa pra fazer tudo em cima da hora.
– Cinco horas, acabou o tempo, fim da sessão!
*Jéssica O. Dias tem 14 anos de idade e cursa o 9° ano, em Fortaleza.
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