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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Inventário (Emanuel Medeiros Vieira)

(Em memória do professor Lauro Junkes, caro amigo e incansável estudioso da literatura catarinense)


Aquela manhã posterior:

qual?

Não a verei – canto da cigarra matutina

morango na relva

grama orvalhada


O espelho me leva a outros espelhos,

a Morte à espreita, sorri na esquina

e diz que sabe esperar: “Tenho mais tempo.”

Olho-a e retruco: “Passou a hora de ter medo.”

Mas sentirei saudades de um certo mar,

de um arco-íris que um menino contemplou

numa ilha ao sul do efêmero.


Cumpri os rituais: afiei o lápis, contemplei a folha

branca

(ah, pureza inatingível/impureza inaceitável).


Palavra arrancada da pedra: esta a memória que ficará.


No meio do café, Ela me olha de novo – fixamente.

Despisto, finjo que não a vejo, e sigo – é preciso

seguir.


Não, não verei meus olhos no momento derradeiro,

nem o novo dia sendo fundado.


As guerras que vivi?

Já não importam.


(Aquele que foi feixe de ossos e de emoções,

segue – pacificado – o rio.)
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