Quando a poesia é especial, a vida ganha um toque de suavidade.
“... Do perdido tempo / Do passado tempo / escuto a voz das pedras: // volta...
volta.../ E os morros abriam para mim / imensos braços...” Cora Coralina.
São palavras como essas que refletem a poesia. Pedras de toque, porque toca a todos. Pedra porque são concretas, palpáveis e não tem fim; fazem-nos refletir sobre o tempo em todas as dimensões; sobre o ato de criar a si mesma, como colocou Orídes Fontella: “A pedra é transparente: / o silêncio se vê/ em sua densidade.”
E cada um de nós em sonhos, desafios e conquistas leva uma vida trepidante, questiona sobre o valor do tempo e o peso de sua escassez.
“Sou pedra / lançada / contra o vento //... onde se perde / o tempo //
... de que vale a mim / pedra arremessada / através do tempo / como
consciência / e crítica / se ao vento / não cabem palavras?” Pedro Du Bois
Refletindo sobre o tempo, hoje, vejo pessoas correndo atrás de seus compromissos e que não dão atenção à palavra amiga; perdem a hora certa – um dia após o outro, e sempre com maior urgência... para quê? Sidney Muller já cantava: “Quem tem mais pressa que arranje um carro / Prá andar ligeiro, sem ter por que / Sem ter prá onde, pois é pra quê?”
Ao descortinar a pedra, pensamos na hora de começar a abrir mão ou jogar fora o que não é mais necessário. Mas, para isso, é preciso crescimento interior, onde hábitos do cotidiano possam ser simplificados e os relacionamentos tornem-se especiais.
“Andamos pela vida como seres de pedra / Habitamos as noites de vento /
... o olhar parado em algum lugar vago / um rosto que passou...” Jorge Adelar Finatto
Lembrar que a transformação está nas pequenas coisas, como a leitura, o amor, a tolerância, a paz e a ética. Fica a sensação que você sabe das coisas, isso nos dá conforto e nos faz sentir a vida.
O grande desafio são as pedras no caminho, que podem ser esculpidas e desvendadas: é lidar com o tempo para agir agora; é fazer algo construtivo e amoroso; ter a capacidade de voltar a viver e amar.
Sonhar a liberdade em conexão com os ciclos da natureza, assim como são os fragmentos das pedras que revelam uma parte da nossa vida e que quer manter viva a dimensão da vida poética.
“A pedra / no peito / flor despetalada // Como contar o que / acontece //
Como dizer do peso encontrado // Como impedir que a flor / despetale //
a flor / desempedrando / o peito.” Pedro Du Bois
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