Nilto Maciel
Em janeiro deste ano, concedi entrevista, por telefone (eu em Fortaleza, o entrevistador em São Paulo) a Oscar D’Ambrosio, para o programa “Perfil literário”, da Rádio Unesp FM, publicada neste blogue, em 5 de fevereiro, e no saite “Cronópios”, no dia 7, sob o título “Nilto Maciel no Perfil Literário”.
Oscar D’Ambrosio é jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), crítico de arte, bacharel em Letras, pós-graduado em Literatura Dramática e autor de Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor Naïf Waldomiro de Deus; Mito e símbolos em Macunaíma; e livros sobre diversos artistas plásticos.
Presenteou-me Oscar, recentemente, um exemplar de Contando a arte de Elias dos Bonecos (São Paulo: Noovha América, 2008). São 48 páginas de biografia e informações sobre a vida do artista popular Elias Rocha, nascido em 1931, “na antiga Chácara do Morato, localizada à margem esquerda do Rio Piracicaba, na estrada do Bongue, perto da tradicional Rua do Porto”, no Estado de São Paulo, e falecido em 1º de abril de 2008. Em cada página, uma fotografia: Elias a trabalhar, suas ferramentas de trabalho, sua oficina e, principalmente, os bonecos que criou e expôs às margens do Rio Piracicaba e em outros sítios. O artista confeccionou (criou) os mais diversos tipos de boneco: do Divino (Festa do Divino Espírito Santo), de Presépio, trabalhadores ou operários, carnavalescos, Judas, espantalhos, pescadores e outros.
O livro é muito rico, colorido, repleto de imagens e informações, numa homenagem emocionante a um artista popular, pobre, de origem humilde (Elias era filho de Renato Rocha, jardineiro, roceiro e pescador, descendente de índios, e da cabocla Sebastiana Souza Rocha, lavadeira de roupas). “Para ajudar em casa, aos seis anos, Elias já vendia minhocas para os pescadores. Depois, ajudava a vigiar os barcos e a retirar a [água deles quando chovia. Ganhava, assim, alguns trocados para comprar pão com mortadela. Cursava o primário de manhã e, à tarde, trabalhava em uma olaria, ajudando na fabricação de tijolos e telhas. Fazia também bonecos à semelhança de amigos como forma de brincadeira” (p. 9).
E ainda há os que não sabem – e não querem saber – quem foi Elias dos Bonecos, assim como os inúmeros e anônimos artistas do povo. Alguns, não tão anônimos, mas vistos apenas como figuras folclóricas. Ou coitadinhos. Preferem filmar e escrever biografias de drogados e traficantes, a quem chamam de heróis nacionais. Quando menos, de ícones ou ídolos. Ou exemplos para a juventude.
Fortaleza, 11 de fevereiro de 2011
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