Não pense que uma casa é um simples amontoado de tijolo, cimento e telha. Toda casa tem uma alma. E como toda alma, a alma da casa tem suas nuances, suas alegrias, seus azedumes. Cada vez que se entra em casa, ela nos recebe de um jeito diferente. Logo na porta da frente, você percebe se ela está contente com a sua chegada. Tem dias em que sentimos uma luz, um brilho diferente. A casa nos aconchega, nos acolhe com intimidade. Outros dias tem umas sombras, um não sei que de estranheza lá pelos fundos do corredor. A minha casa, pelo menos, é de veneta.
A casa de Cabedelo, que é meio minha, meio de minha filha, ficou inviável com uma reforma do sistema hidráulico. Faltou água. Por isso, vim passar uns poucos dias no Bairro dos Estados. A princípio, a casa da cidade pareceu alegre com minha chegada. Mas acho que ela andou escutando umas conversas de que voltaríamos para Cabedelo assim que a reforma ficasse pronta. Foi o suficiente para que o mau humor tomasse conta do domicílio. Começou a pingar água do split do quarto, molhando uma caixa de CDs. Vazou água na pia do banheiro social. Emperrou a porta do meu consultório. Queimou uma lâmpada na sala e outra no terraço.
Nada de grandes desastres, tudo podendo ser resolvido com um pouco de dinheiro e paciência. Mas para mim ficou patente que a casa estava com ciúmes. Ela é maior, mais antiga e confortável que a outra. Não deve suportar que a troquemos por uma simples casa de praia, com seus improvisos, seu desconforto, sua frivolidade.
Recomendo a quem tiver juízo que afaste-se de casa toda vez que precisar falar de algum dos seus defeitos ou fazer qualquer comparação com outra casa, seja sua ou de um amigo. Sobretudo, evite folhear dentro de casa aquelas revistas de decoração. Sua casa vai se sentir insultada e não se sabe o que uma casa ciumenta é capaz de fazer.
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