(Edson Guedes de Morais)
Recebi do poeta Edson Guedes de Morais, que mora em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, uma caixinha recheada de poemas: 2001 – Calendário – Poetas – Antologia (Editora Guararapes). O bloco de janeiro apresenta poemas de Aluísio de Azevedo, Aníbal Machado, Augusto Meier, B. Lopes, Carlos Nejar, Casemiro de Abreu, Edson Guedes de Morais, Emiliano Perneta, Euclides da Cunha, Henrique do Cerro Azul, Homero Homem, João Cabral de Melo Neto, Luís Delfino, Marcus Accioly, Nilto Maciel, Pascoal Carlos Magno, Rubem Braga, Walmir Ayala e Wenceslau de Queiroz. Não relacionarei todos os nomes, para não ser enfadonho.
A caixinha é um livro diferente dos outros. Primeiro, por ser feito artesanalmente: a caixinha (será de madeira?), as folhas (papel) de cada bloco (mês) coladas umas às outras, impressas em computador. Segundo, por ser uma caixa. Terceiro, por ter as capas personalizadas: cada autor tem o nome e uma fotografia na capa (exterior da caixa) de um exemplar, sendo o miolo igual para todos.
Edson constrói artefatos como este há anos. Dedica grande parte da vida a divulgar a poesia (dos outros), sendo ele grande poeta. E também contista da melhor qualidade.
Edson Guedes de Morais nasceu em Campina Grande (PB) em 1930. Poeta, contista e crítico. Autor de Vinte Anos Outra Vez e a Virgindade do Mundo, contos, 1987, e outros livros. Estreou em 1956 com Dispersão, poesia. Seguiram-se A História Verdadeira da Morte do Delegado, poesia-cordel, 1963; Um Homem e os Homens Lá Fora, contos, 1963; In Oito, 1964, poesia; Artesãos do Nada, 1973, romance; Outras Lembranças, Outra Casa, Outros Mortos, 1976, novela; Monstro, Besta-Fera, Como Saiu nos Jornais, 1975, teatro; As Coisas, Assim Como São, Assim São, 1978, teatro. Tem romances e peças de teatro inéditos.
O poeta mineiro-brasiliense João Carlos Taveira prestou-lhe homenagem no artigo “Edson Guedes de Morais, um abnegado poeta nacional”, a seguir transcrito (colhido no site do poeta Antonio Miranda: www.antoniomiranda.com.br):
“O trabalho editorial que Edson Guedes de Morais vem desenvolvendo ao longo dos anos, depois que se estabeleceu de vez em Jaboatão dos Guararapes-PE, tem sido motivo de grande orgulho para todos nós que labutamos nas letras, principalmente na arte do verso.
Que projeto é esse? Talvez o mais original e interessante que já se fez no campo da literatura brasileira, em todos os tempos. Em princípio, parece simples. Mas, na verdade, requer conhecimento, abnegação e, principalmente, paciência, muita paciência, pois, não se pode esquecer, trata-se de algo totalmente artesanal.
Todos os fins de ano, o poeta e contista paraibano/mineiro (que já foi radicado em Brasília, onde fez vários amigos) realiza, com poetas brasileiros de todos os quadrantes, uma verdadeira maratona cultural e artística de alto nível estético e depurado bom-gosto. Ele constrói caixas com cartões de Natal, cujos motivos são poemas do biografado, que, por sua vez, acabam ilustrando o calendário do novo ano que se aproxima. Essas caixinhas, às vezes em papelão, às vezes em madeira, representam, para cada um dos homenageados, uma verdadeira preciosidade. Mas já houve tempo em que os poemas eram veiculados em garrafas de vinho.
Edson Guedes de Morais, com esse trabalho, está prestando um grande serviço à literatura brasileira, pois congrega poetas de todos os estados da federação e os faz veicular no âmbito de sua aldeia. Estou certo de que, se tivesse algum apoio, poderia fazê-lo em âmbito nacional. Para mim, seu mérito maior é fazer o papel que as escolas públicas, ou mesmo as particulares, há muito abdicaram de realizar. Talvez por conta dos facilitarismos eletrônicos ou de uma política voltada para outros valores. Uma pena!
De Brasília, fazem parte do acervo do projeto, há vários anos, os poetas Antonio Carlos Osorio, Anderson Braga Horta, Joanyr de Oliveira, Danilo Gomes, Wilson Pereira, José Jeronymo Rivera, José Geraldo Pires de Mello, o autor deste artigo, entre outros.
A beleza que a poesia busca eternizar deveria fazer parte do cotidiano das pessoas, como fonte de conhecimento e de felicidade pessoal. Quem sabe o mundo não seria menos infeliz e menos egoísta do que tem sido?
Por essas razões, rendo minhas homenagens a esse paladino da poesia brasileira, que, ao completar 80 anos (23/1/2010), continua dando lições de humildade e sabedoria. E, ao dar continuidade a esse projeto pessoal, demonstra que ainda está longe qualquer sinal de cansaço.
Brasília, 25 de janeiro de 2010”.
Transcrevo, também, um de seus poemas (colhido no site do poeta Antonio Miranda):
TEMPO E CASUALIDADE
Nenhum deus me fez ou sabe.
Houve um gesto; depois,
a involuntária duração do gesto
como um punhado de areia
que se atira para o alto.
O fado é não podermos ver,
a cavaleiro, nossos próprios passos,
esquecermos depressa a semeada
e este germinar à nossa frente.
Muito antes de mim, depois,
a folha, o vento e o movimento
da folha sobre a estrada pelo vento.
Torno público o meu agradecimento ao poeta (não conheço endereço eletrônico dele) pelos muitos poemas meus publicados em caixinhas e outras coisas feitas por ele.
Fortaleza, 4 de fevereiro de 2011
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