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terça-feira, 8 de março de 2011

Negócios importantes para o futuro da empresa (Luciano Bonfim)



Contei-lhe sobre os meus últimos planos. Ela, sobre a sua mais recente e conturbada vida. Ela tem muitas vidas e resolveu vivê-las, aquelas que realmente agora lhe dizem algo forte, de maneira intensa – como se todas as vezes fossem a única vez.

A vida é dura, ela disse; meu pau também, acrescentei!

Ela riu e perguntou: você não vai tirar a roupa? Você sabe: mais vale um pássaro na mão – na minha, claro.

Depois acariciou o meu corpo, e, com a língua, refez o mesmo caminho antes percorrido pelas mãos. Demorou-se onde lhe agradava, o que me deixou um forte desejo de que o mundo acabasse ali mesmo, ou, ao contrário, que aquela hora nunca terminasse.

Ela sentou no sofá e, enquanto eu tocava com intensidade e luxúria os seus delicados seios alabastrinos, a sua boca se demorou em meu instrumento.

Fomos à cama. Passeei pelo seu umbigo, viajei ao tornozelo, perdi-me nos seios, retornei ao umbigo, desci um pouco mais, quando, enfim, nossos lábios se tocaram.

Mais vale um pássaro na cona!, my darling, ela disse, na minha, claro, acrescentou. Coloquei a camisinha.

Ela retirou: não se preocupe, eu uso DIU, você não sabe?

DIU é o caralho!, falei.

Não fiz por mal, não se preocupe, já disse!

Mas eu me preocupei, não com o DIU que ela dizia usar e eu não sabia, mas com a possibilidade de que, realmente, ela não usava um DIU. Com um futuro tão promissor não poderia me perder numa cilada dessas. Claro que existe a possibilidade de aborto, considerei. De outros riscos nem me lembrei.

– Muitas vezes as palavras são repletas de sentidos não convergentes, pois quando, em silêncio, os corpos falam e se debatem em diálogos intempestivos e atemporais...

Cala a boca, eu disse; não temos o dia todo, esqueceu?

– Mas...

Nem mais nem menos, concluí

Em seguida, para não parecer insensível, disse alguma coisa que nem me lembro mais. Recordo, isto sim, que naquela tarde ainda tinha muitos processos para despachar.

Ela ficou na minha frente e, outra vez, apertei o seu corpo contra o meu, enquanto ela se contorcia e fazia respiração de cãozinho recém-salvo do afogamento.

Com as minhas mãos na sua cabeça, trouxe a sua boca para junto do meu corpo. Depois nos beijamos. Um pouco antes, confesso, a vi cuspir o meu amor no chão.

Só faltou uma coisa, ela disse, e pôs o dedo indicador discreta e docemente sobre o seu pássaro de cinco asas.

Fomos ao sofá e, colocando uma mais alta que a outra, ela abriu as pernas, entretanto a lembrança do DIU me atrapalhou.

Ela se dirigiu ao banheiro e, após o banho, já recomposta, acendeu um cigarro e divagou soprando círculos de fumaça para o alto. Aquela cena, desde o cigarro, me causou incômodo. Cumpri meu ritual de higiene. Vesti-me. Ela pagou a conta. Seguimos em direções opostas.

Dali a pouco, ela pegaria a sua filha no colégio e eu me encontraria com o seu marido, para tratarmos de negócios importantes para o futuro da empresa.

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Luciano Bonfim [Crateús/CE.]. Publicou: Dançando com Sapatos que Incomodam – Contos [2002]; Móbiles – Contos [2007]; Janeiros Sentimentos Poético [1992] s e Beber Água é Tomar Banho por Dentro[2006] – Poesia; escreveu e montou as peças: Auto do Menino Encantado [2002] e As Mulheres Cegas [2000 e 2004]; criador da revista Famigerado – Literatura e Adjacências [2005]; professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA [desde 1996]; aluno do mestrado em Educação Brasileira [FACED-UFC/2006].


Leia ainda Luciano Bonfim no site de Patrícia Tenório
e-mail: luciano.bonfim@yahoo.com.br
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