Sempre gostei de carneiros. Minha infância foi repleta deles: carneiros brancos, pretos, verdes; carneiros altos, sorridentes, inquietos, carneiros quadrados. À mesa também estiveram muitos carneiros, que mamãe preparava com um exagero de vinho e pimenta e hortelã.
Hoje, no entanto, não vejo mais carneiros por aí. Uma tristeza. As pessoas, aliás, nem sabem o que é isso. Algumas consideram já ter visto algo parecido na TV; outras, em fotos amareladas. As crianças que eu conheço acham que os carneiros são apenas seres imaginários criados pela internet.
Foi por causa disso que resolvi fotografar carneiros. Trazê-los de volta à luz, resgatá-los do esquecimento. Provar ao mundo que eles ainda existem.
Tenho 7 câmeras que registram tudo o que passa na rua, 24 horas por dia, todos os dias. Meu esforço, no entanto, tem resultado inútil: acumulo já há meses fotos e mais fotos de caminhões, dinossauros, tigres de bengala e fusquinhas, hidras, minotauros, senhores de chapéu coco, medusas, anjos e demônios, a putaquiuspariu. Carneiros, nenhum.
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