Carnavalha, romance de Nilto Maciel, é um grande baú de espantos e veleidades da condição humana, no dia a dia dos moradores de Palma.
O livro divide-se em 8 (oito) partes, cada uma delas com diversos capítulos, curtos e nominados, apresentando uma gama de questionamentos acerca da existencialidade. Os capítulos, muito bem estruturados, até poderiam ser chamados de minicontos, dada a sua independência, digamos assim, parcial. Eles se unem, todavia, para alcançar o seu objetivo mor que é a busca daquele algo mais que faz do livro um romance.
Apesar disso, eu prefiro chamar o seu conteúdo de uma grande crônica que versa sobre o aspecto social da cotidiana ilusão, leia-se o lado grotesco da vida. O autor intercala o universo das pessoas, dos bichos e das coisas numa espécie de circularidade, com destaque para o jogo das imagens, o que valoriza a plasticidade da obra.
Carnavalha é um livro que transforma o cotidiano de Palma numa aventura “carnavalesca”, cheia de humor, uma sátira ao baixo clero da pequena cidade. Percebe-se no livro certa intencionalidade, no sentido de mostrar a realidade da vida, encadeada num fluxo coerente, harmonioso e cheio de vitalidade, revelando uma dissimulação sado-masoquista do dia a dia tedioso, modorrento, enfadonho, sem sentido, claustrofóbico, apesar da liberdade presente nas calçadas e nas janelas, palco dos fuxicos acerca dos foliões.
Nilto Maciel é um grande domesticador de palavras e sabe como transformar a linguagem elíptica, despojada, em algo de grande feitura estética. Carnavalha (navalha na carne) mistura foliões, assistência e bichos num grande carnaval que é a vida.
Tudo muito bem descrito e caracterizado.
(Jornal Sul Brasil, Chapecó, SC, 9/10/5/2011)
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