No mês passado fui vítima de dois assaltos — mas tudo correu bem: eu saí vivo e o ladrão, satisfeito. Percebi isso nos seus olhos.
Na semana passada, um assalto apenas. Mas foi genial: fui sequestrado e passeamos muito pela cidade, eu e o ladrão. Descobri, aliás, ser ele um apreciador da filosofia de Kant. Um homem raro — e foi com raro prazer que lhe entreguei todo o meu dinheiro.
— É o suficiente para as suas investigações filosóficas? — perguntei.
— Tá de bom tamanho, doutor — respondeu ele, que se foi levando o meu carro.
Ontem, no entanto, as coisas não correram nada bem: fui pego de surpresa, com pouquíssimo dinheiro, e o ladrão, percebi, ficou decepcionado.
— Faltas desse tipo são intoleráveis — ele protestou.
A mim só restou baixar os olhos e concordar, resignado.
*Claudio Parreira é escritor e chargista. Pode ser visto em:
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