Estava tudo programado para ser um sábado sofisticado. Começou logo nas primeiras horas, quando saímos de um bom restaurante onde jantamos um excelente salmão acompanhado de um vinho razoável. O que estava previsto em seguida, depois de umas boas horas de sono, era dedicarmos o dia a atividades exclusivamente culturais. Precisava me preparar para um encontro com a escritora Ana Miranda, o que incluía ler e reler alguns de seus livros e consultar sobre ela na internet. Além disso, precisávamos assistir “Cria cuervos”, de Carlos Saura, pois tinha sido convidado para comentá-lo numa sessão especial de cinema. Iríamos passar o sábado numa espécie de levitação.
Acontece que o homem põe, Deus dispõe e a mulher impõe. Deus até parece que havia concordado com a programação cultural. Mas minha mulher lembrou de uma receita de churrasco feito em panela de pressão que tínhamos visto no início da semana no programa de Ana Maria Braga. O problema era que nenhuma das nossas panelas estava em condições dignas para participar de semelhante evento culinário. Ante à proposta de minha mulher de adiar o prato para um dia em que tivéssemos uma panela de pressão decente, me indignei e tomei a decisão que se espera de um verdadeiro varão: hoje vai ter churrasco nesta casa, nem que eu tenha que mover céus e terras. Mover céus e terras, neste caso, consistia em pegar o carro e dar um pulo no shopping, o que foi feito em pouco menos de uma hora.
Nem precisou que o portão automático se abrisse todo para que aparecesse a figura arredondada do meu irmão, impaciente por não ter ainda iniciado os trabalhos do sábado. Daí em diante, dá pra imaginar o que aconteceu com o meu programa cultural. Livros e filme foram alegremente substituídos por fartos pedaços de carne, metros de linguiça, generosos goles de cachaça e decalitros de cerveja bem gelada.
Saura e Ana Miranda que nos perdoem, mas não é todo dia que se compra uma panela de pressão.
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