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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Quatro livros de prosa de ficção (Nilto Maciel)



Como tenho dito em crônicas ou comentários, recebo muitos livros. Não leio tudo, por falta de tempo e disposição. Se não leio na íntegra, não tenho como escrever resenha. Termino em rascunho de notícia. Para facilitar o trabalho, separo os livros por gênero ou origem. Sendo assim, hoje me dedicarei a quatro volumes de contos e crônicas recebidos em abril e maio de 2011. Dois vieram de Minas Gerais, um de Santa Catarina e o outro daqui mesmo. São eles: Galos e solidão (Cataguases: Do Autor, 2009), de P. J. Ribeiro; Silas (Natal: Jovens Escribas, 2011), de Sérgio Fantini; Entre oito paredes (Fortaleza: Gráfica LCR, 2008), de Brennand de Sousa; e Pequeno álbum (Blumenau: Editora Hemisfério Sul, 2009), de Viegas Fernandes da Costa.
Conheço P. J. Ribeiro, de nome e livros, há quase 40 anos. Já falei disso noutros escritos. A primeira publicação dele é Abstrações de um tigre, poemas, de 1976. Tempo da revista O Saco. Vieram muitas outras, de poemas e contos. E todas enviou a mim. Todas eu li. Nem todas comentei. Vale dizer: “todos os livros foram editados pelo próprio autor, em Cataguases”, como ele faz questão de anunciar. Este Galos e solidão é também de narrativas curtas. Tem apresentação de Ricardo Alfaya, outro amigo meu há algumas dezenas de calendários. Colhi algumas frases dele: “Os contos de P. J. apresentam um desfile de personagens que, um após o outro, cometem exatamente tudo aquilo que os livros de autoajuda e os religiosos de toda sorte condenam”. Isto explica quase tudo. Mas, tem mais: “Para começar, todos os personagens são inconformados. Nenhum deles está em harmonia com a vida”. Não farei outras citações, para não encher este pequeno espaço com a voz de Ricardo. E passarei ao segundo livro, para não ficar preso a P. J. Ribeiro.

Conheci Sérgio Fantini recentemente, em minha casa. De passagem por Fortaleza, anda a divulgar o livro novo. Silas é composto de cinco contos e uma novela. Os títulos são intrigantes: “Belo Horizonte, 21 de agosto de 1986” (cabeçalho de carta); “Por que me tornei estuprador (Alberto Fonseca Júnior)”; “Diz Xis” (novela); “Silas, 30 do 2º tempo”; “Silas, velho”; e “Um homem comum (Francisco de Morais Mendes)”. Nunca vi títulos assim. São incomuns. Sebastião Nunes, figura esquisita da literatura brasileira, aparece na quarta capa: “Sérgio Fantini é fruto tardio do bando de galhofeiros que, na década de 1970, atacou com sua controvertida papelada a bastilha da poesia brasileira”. A linguagem de Fantini é a das ruas, dos botecos, dos marginalizados. Como a da mãe do escritor Silas, em carta (que é o conto) dirigida a um editor: “Só estou lhe escrevendo estas mal traçadas linhas porque tenho um complexo de culpa muito grande em relação ao Silas: nunca reconheci que ele fosse escritor”. Nada de poesia ou frases pomposas.

Dias atrás, Pedro Salgueiro me visitou. Acompanhava-se de sua mulher, do mineiro Sérgio Fantini e sua (de Sérgio) namorada, e de Brennand de Sousa, que é de Iguatu, Ceará. Falamos apenas de livros e livros. Beberam umas trinta latinhas de cerveja, visitaram o banheiro uma dúzia de vezes e apalparam as lombadas de minha biblioteca por uns minutinhos. Para sossegá-los, dei, a cada um, minhas obras completas e ganhei exemplar de Entre oito paredes. Li-o, no dia seguinte. Está catalogado como livro de crônicas. Eu o trouxe a este catálogo para não o deixar só. Pois são raros os compêndios de crônicas que me chegam. Além do mais, não tenho capacidade de escrever resenha de coleção de “narrativas cronicizadas” (expressão usada por Demitri Túlio). Na primeira aba do volume, Salgueiro esclarece: “é na tênue fronteira entre a crônica e o conto que suas (de Brennand) saborosas histórias se situam”. Concordo com o contista de Tamboril: o conto de hoje (curto como é, quase sem trama) tem muito de crônica.

O livro de Viegas traz também singularidades. Na ficha catalográfica registra-se o gênero conto. Mas, há de tudo em Pequeno álbum: poema, miniconto, crônica, poema em prosa e outras formas literárias. Uns são bem curtos: duas, três, quatro, cinco linhas. Como “Manhã em Blumenau”, que é só isto: “Sono e manhã. O guarda estende os braços, abriga passagem às capivaras que cruzam a faixa e a avenida. Lá... o rio, a água e meus olhos”. Não deixa de ser poesia. Outros têm títulos de poesia: “Poema”, “Poema de amor”, “Epifania”. As abas são de Rodrigo Oliveira, que ressalta: “Nos contos e textos de Pequeno álbum podemos ver o escritor se dobrando sobre o próprio texto, sobre o próprio fazer literário, como no premiado ‘Ítalo’, conto de construção ímpar e riquíssima leitura.” Viegas é do Sul, nasceu em 77, tem três livros. E está sempre em contato comigo. E com milhares de leitores e escritores.

Estou contente com meus amigos e seus livros novos. Só lamento não dispor de mais tempo para os ler e comentar.

Fortaleza, 7 de junho de 2011

Contatos:
b_nnn_d@yahoo.com.br (Brennand de Sousa)
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